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sexta-feira, 22 de novembro de 2019
O coelho e o leão
O leão e o coelho, eram amigos íntimos. O coelho tinha um filho nascido no fim do mês e que se chamava Carancoa. Uma noite uma goma caiu na ratoeira e o coelho que passou perto da armadilha (aumbuna) ouviu a goma dizer:
- Que mal fiz eu a Deus para ter aqui caído, presa?
Eu não fiz mal a ninguém!
Diz-lhe o coelho, lembrando-se do seu filho pequeno;
- Se eu tirar a você daí, o quê que você me dá? Quanto dinheiro?
Tudo o que você quiser - disse- a goma. E você sabe quem é que fez esta aumbuna?
O coelho não sabia que o buraco tinha sido feito pelo seu amigo leão, e foi buscar um pau, com que ajudou a goma a sair do buraco.
O leão, que estava ali perto a espreitar, disse:
- O meu amigo coelho é malandro. Está-me a tirar a carne para o jantar. Espera que já vais ver.!
Agarra num tambor de batuque e começa a chamar toda a gente do prazo, a quem disse que tinha um milando. A gente não fez caso dizenndo que não podia demorar-se pois tinha os seus serviços.
O leão toca outra vez o tambor para chamar toda a bicharia do prazo. Juntou-se tudo e cada espécie formava um grupo. O leão falou:
- Caiu carne numa ratoeira que eu tinha arranjado, e houve alguém que ma foi roubar. Eu vou perguntar a cada um quem fez o roubo, e ao seu autor agarrarei pelo rabo e, depois de lhe fazerdar duas voltas no ar, cairá no chão, ficando morto. Eu já adivinhei quem é o ladrão..
Quando ouviu isto o coelho pensou:
- Se ele me quiser agarrar pelo rabo, meto-me num buraco que abri naquele imbondeiro e ficarei ao abrigo.
E assim foi.
Quando o leão se vai a aproximar do coelho, para o agarrar pelo rabo, ele foge; o leão vai atrás do coelho que se mete no buraco da árvore.
O leão mete a cabeça, e fica com ela entalada. Então diz o coelho:
- Então agora, ficas aí!?! Queres que eu te ajude? Hás-de dar-me a coisa mais preciosa que tiveres, para eu dar a minha mulher.
-Não, isso não dou!- lhe respondeu o leão.
- Então morre aí, diz o coelho.
E assim sucedeu. O coelho ficou sem rabo, mas o leão, morreu entalado no baobabe.
PEDRO A. DE SOUSA E SILVA ( Literatura africana de J. Osório de Oliveira)
quinta-feira, 20 de outubro de 2016
Honra e proveito
Um dia os Deuses, cada qual uma árvore
À sua guarda consagraram: Júpiter,
Esse o carvalho, a murta Vénus, Hércules,
Lá esse o álamo. e o loureiro Apolo.
Vendo-as Minerva todas infrutíferas:
- Que é isto? (exclama). Júpiter acode-lhe:
«Senão, diriam filha, que as guardávamos
Só pelo fruto. - Que me importa? digam-no:
É pelo fruto, que a oliveira escolho?
Minerva! (brada o pai de homens e deuses)
És quem de todos, sabes mais sem dúvida:
No que não luza,... mal fundada glória!
Honra sem proveito faz mal ao peito
✬¨*•.
João de Deus Campo de Flores livro l
✬¨*•.
João de Deus Campo de Flores livro l
sexta-feira, 9 de setembro de 2016
O cão e presa
À margem de uma ribeira,
Mas vendo-o naquele espelho,
Larga-o, salta a ribanceira…
E assim perde o que levava,
E mais o que ambicionava!
Abençoada prudência
(E é esta a moralidade!)
Quantos pela aparência
Perdem a realidade!
João de Deus
"Campo de Flores"
terça-feira, 30 de agosto de 2016
A cigarra e a formiga
Como a cigarra o seu gosto
É levar a temporada
De Junho, Julho e Agosto
Numa cantiga pegada,
de Inverno também se come,
E então rapa frio e fome!
Um Inverno a infeliz
chega-se à formiga e diz:
- «Venho pedir-lhe o favor
de me emprestar mantimento,
matar-me a necessidade;
que em chegando a novidade,
Até faço um juramento,
Pago-lhe seja o que for.»
Mas pergunta-lhe a formiga:
-«Pois que fez durante o Estio?»
- «Eu? Cantar ao desafio...»
-« Ah! Cantar? Pois, minha amiga,
Quem leva o Estio a cantar,
Leva o Inverno a dançar!"
♥*¨*•.¸¸♥ Joao de Deus, Campo de flores (Séc XlX)
É levar a temporada
De Junho, Julho e Agosto
Numa cantiga pegada,
de Inverno também se come,
E então rapa frio e fome!
Um Inverno a infeliz
chega-se à formiga e diz:
- «Venho pedir-lhe o favor
de me emprestar mantimento,
matar-me a necessidade;
que em chegando a novidade,
Até faço um juramento,
Pago-lhe seja o que for.»
Mas pergunta-lhe a formiga:
-«Pois que fez durante o Estio?»
- «Eu? Cantar ao desafio...»
-« Ah! Cantar? Pois, minha amiga,
Quem leva o Estio a cantar,
Leva o Inverno a dançar!"
♥*¨*•.¸¸♥ Joao de Deus, Campo de flores (Séc XlX)
domingo, 31 de janeiro de 2016
Aparências
Naquela imensa capoeira doirada, ao fundo do parque, as discussões não acabavam. A mais impertinente era sem duvida a galinhola, que, ao menor comentário, desatava num estridente, - E eu que o diga!E eu que o diga!». Perto dela o pavão era, também insuportável. E os galos e os pombos e as galinhas não se ficavam atrás, em ruidoso falatório.
Certa manhã, uma galinha resolveu tomar o seu banho de terra solta. Estendida como morta, com uma pata no ar, parecia não dar fim aquela sua extravagante posição. Uma outra sorrateiramente aproximou-se para lhe dar a entender que deveria levantar-se, porque ela também sentia o direito de se envolver, refastelada no chão, na terra solta.
E deu-lhe três fortes bicadas.
- Mas que autoridade tens tu ? - perguntou, sentenciosa a primeira.
A segunda respondeu-lhe com mais três fortes bicadas.
- Pouco barulho! Haja decência! Se aqui há alguém que merece respeito, esse alguém sou eu simplesmente - articulou o pavão, abrindo a cauda maravilhosa.
Todos se calaram, dominados pela beleza aparente que o pavão orgulhoso lhes mostrara.
Nisto entra na capoeira, o dono com um amigo. Afagou a galinha que mais punha; elogiou as pombas e os pombos; e. quando olhou para o pavão, soltou este desabafo;
- Isto não me serve para nada; está aqui a encher.
- Mas as penas são de uma grande formosura, ! - respondeu o amigo.
-Pois sim!- acrescentou o dono - Não digo que sejam feias; contudo veja o que fica, se lhe tirarmos as penas!
António Tomás Botto Foi poeta, humorista, contista e dramaturgo português, um dos mais originais e polémicos do seu tempo
sábado, 30 de janeiro de 2016
O tigre e a doninha
Pesou sempre o benefício porque a vaidade ofendeu,
principalmente se o grande, de um pequeno o recebeu
uma história que se aplica belamente aos racionais:
crendo que a tudo excedia no reino da Natureza.
em pérfida rede armada, por esperto caçador.
lida, revolve-se o bruto, e o que faz é apertar-se.
cessa, e do peito raivoso, horrendos bramidos lança.
demandando agrestes frutos, a leve esperta doninha.
foge:
porém curiosa põe-se de longe a olhar.
despe a soberba e lhe roga que o venha ali socorrer.
que, segura, a desprendê-lo, parte a doninha veloz.
no tenaz, urdido laço; roi aqui roi acolá
e o desfaz em breve espaço.
do que deve ao pequenino, fraco animal se envergonha.
- com receio de que a triste o caso nas selvas conte -
deita-lhe a garra danosa, a débil vida lhe extrai!...
Ninguém acuda ao malvado, se no precipício cai.
BOCAGE (Sec XVIII)
domingo, 24 de janeiro de 2016
O sapo fanfarrão
Passam as noites contentes em constante labor,
a limpar as searas de todo o bicho daninho.
Têm qualidades raras, que merecem o carinho
dos homens tão imperfeitos.
Mas têm também os seus defeitos,
como qualquer mortal.
Um tal conheci eu, que era muito fanfarrão.
Porem aconteceu ser castigado e muito bem,
porque os defeitos não ficam bem a ninguém..
Um dia quando ia em companhia doutro sapo seu compadre,
adregou de se afastar um pouco do companheiro,
num lameiro, onde um boi ia pastar.
O pobre louco em tão má hora o fêz
que foi cair sem sentir, sob a pata da rês.
O boi tão mansinho, coitadinho, nem deu por tal;
isto é, nem mesmo viu ao pôr o pé, que pisava aquele bicho tão feio.
Como pastava a bom pastar, nem sequer pensava em se afastar
do lugar, em que se encontrava.
O sapo metia dó, coitado!
Amachucado sem se poder mexer e só, sem ver o compadre,
que ia ser dele?
Aquele, em verdade sentiu a falta do camarada, e vá de gritar
em voz alta;
- Compadre amigo, onde está você?
Não vê que é longa a caminhada?
Venha daí, venha comigo, não vê o perigo de ficar aí sozinho?
O outro, via, via, mas que fazer?
Que remédio, havia de ficar ali muito quieto,
até o boi querer?
Dar a saber ao amigo a causa da sua ausência? Isso é que não!
Santa Paciência...
Antes morrer! -
Fêz-se forte, valentão;
e, mesmo à beira da morte a custo respondeu:
- Compadre amigo, siga o seu caminho,
Custa-me não ir consigo, deixá-lo sózinho;
mas eu
(não veja nisto bravata)
não o posso acompanhar porque tenho de ficar
aqui a segurar, este boi por uma pata...
ABEL SANTOS (?) 1950
sexta-feira, 22 de janeiro de 2016
Um preguiçoso e o bicho da da seda
- « Feliz a borboleta! Livremente voa
para onde quer, onde lhe apraz»
- dizia lamentando-se um rapaz,
na escola negligente.
«estudar, estudar o dia inteiro,
não pode haver, mais duro, cativeiro.!
Bicho da seda, poderás dizer-me,
se, alegre, essa prisão, vais fabricando?»
- «Faço-o até com prazer» respondeu o verme - ,
pois cá de dentro, sairei voando!»
António de Azevedo Castelo Branco
Lira Meridional (Século XIX)
António de Azevedo Castelo Branco (1843-1916) Foi um advogado, jurista, escritor, poeta e político português
quinta-feira, 21 de janeiro de 2016
Meia Fábula
Disse um tigre mosqueado
A um pobre cordeirinho:
— «Tu andas muito arriscado
«Por estes vales sozinho.
«Queres ser meu aliado?.
— «Mas dize-me: esse focinho
«Parece-me ensanguentado!»
— «É sangue de um desvairado
«Que se julgava adivinho,
«Que se julgava inspirado.»
— «E devoraste-o? Coitado?!»
O pobre cordeirinho
foi andando de mansinho.
Foi andando disfarçado
E dizendo horrorizado:
— «Com semelhante malvado
«Meu pobre velo nevado
«Meu pobre velo de arminho!»
E não quis ser aliado.
João de Deus
(Século XIX)
A um pobre cordeirinho:
— «Tu andas muito arriscado
«Por estes vales sozinho.
«Queres ser meu aliado?.
— «Mas dize-me: esse focinho
«Parece-me ensanguentado!»
— «É sangue de um desvairado
«Que se julgava adivinho,
«Que se julgava inspirado.»
— «E devoraste-o? Coitado?!»
O pobre cordeirinho
foi andando de mansinho.
Foi andando disfarçado
E dizendo horrorizado:
— «Com semelhante malvado
«Meu pobre velo nevado
«Meu pobre velo de arminho!»
E não quis ser aliado.
João de Deus
(Século XIX)
quarta-feira, 20 de janeiro de 2016
O leão moribundo
Achou-se um dia, o rei dos animais por doença ou velhice moribundo.
e, (há casos neste mundo, incríveis, mas reais)
Quem dantes mais solícito o servia, é que, às portas da morte o injuria!
Veio o cavalo, e deu-lhe uma patada!
Veio o lobo, ferrou-lhe uma dentada!
Veio o boi, arrumou-lhe uma marrada!
Ele, contudo, manso como um lago,
apenas lhes lançou um olhar vago...
Mas quando ouviu um zurro, e, olhando então deveras,
viu, aos pinotes vir correndo o burro...
ah, pressentindo a injúria, com mais horror que fúria
o forte doutras eras, rei dos bosques e feras,
em suma, o grande, o generoso, o forte,
arranca das entranhas um gemido, um rugido, um uivo, um urro,
que retumbou por vales e montanhas:
- »Antes a morte!»
A morte, a morte !
João de Deus (século XIX)
sábado, 5 de dezembro de 2015
O lobo a raposa e o macaco
No meio da floresta imensa povoada ela mais abundante e variada flora, erguia-se o "palácio da justiça" de toda a bicharada silvestre: um giganteso carvalho grosso e já carcomido cujas franças se estendiam por sobre o arrelvado solo, cobrindo-o com a sua sombra bemfazeja.
Aí vivia com numerosa família um macaco já adiantado em idade, que tinha sido eleito pelos habitantes da selva juíz de todas as contendas.
Todos o estimavam já por ele ser velho já porque as suas sentenças se caracterizavam por aquela imparcialidade e justiça que não vê amigos nem inimigos e dá a cada um o que a cada um pertence.
Havia já muito tempo que o macaco não era chamado a julgar qualquer crime ou demanda.
Um dia, porém, quando ele, sentado num grosso ramo contemplava os exercícios acrobáticos de dois filhos, e mais quatro netos, a quem ia dando os conselhos que julgava convenientes, chegaram junto do carvalho, um lobo e uma raposa, cujas atitudes denotavam que o primeiro não podia deixar de ser queixoso, e que a segunda era ali conduzida como ré ou acusada.
Logo que os viu, o macaco desceu do seu posto de observação e veio descendo lestamente para um ramo mais próximo dos recém-chegados.
Todos os macacos e macaquinhos, pressentindo novidade, abandonaram as variadas ocupações em que se entretinham, e, de ramo em ramo, aos saltos e dando guinchos de alegria, foram postar-se em lugar donde melhor pudessem presenciar o espectáculo. Faziam um barulho ensurdecedor; mas o velho símio olhou-os carrancudo , deu-lhes um berro, e imediatamente toda aquela macacaria irrequieta tomou a postura das estátuas.
- Que é que querem ? - perguntou ele.
A raposa, ia falar, muito mansa ; o senhor juíz, poré, impôs-lhe silêncio.
- Fale primeiro o lobo - ordenou.
- Saiba vossa senhoria, senhor juíz, que aqui a minha comadre me roubou ontem, a melhor peça de caça que eu tinha para o jantar de hoje.
- Roubou ontem o que tinha de ser comido hoje?
Adiante. E tu o que dizes raposinha?
- Eu digo que não roubei coisíssima nenhuma!
- Muito bem! - exclamou o juíz.
E, voltando-se para o lobo:
-Tens testemunhas?
- Não senhor juíz. Mas foi ela concerteza.
A raposa estava calada . Os macacos sentados ou dependurados nos ramos, trocavam palavras em voz baixa, ou riam-se piscando os olhitos vivos e maliciosos.
Então o juíz tossiu, escarrou para o lado, limpou os beiços à cabeluda mão, e pronunciou a sentença:
- Ouvidos o queixoso e a ré; devidamente ponderados os seus depoimentos, e pelo conhecimento que tenho dos costumes de ambos, concluo que tu, lobo, não foste roubado, mas tenho a certeza que a tua comadre raposa já alguma vez te larapiou.Pelo que vos condeno a serdes bastonados, pelos oficiais da minha justiça
Ditas que foram estas últimas palavras desceram da árvore quatro latagões, de quatro macacos, armados de cacetes que, se não deram a matar, foi sómente porque os dois animais desavindos, depois de levarem as primeiras pancadas, resolveram fugir, um para cada lado, enquanto todos os macacos se riam a bom rir, daquele desfecho da questão.
José P. Tavares - Cinquenta Fábulas de Fedro
terça-feira, 1 de dezembro de 2015
O cágado e a gazela
Foi um cágado ter com uma gazela, para apostar a ver quem corria mais.
A gazela espantada, disse que estava pronta para fazer a aposta, e combinaram o dia da corrida, que foi marcada para daí a quinze dias, e combinado o sítio em que se haviam de encontrar.
O cágado foi para a sua casa, e chamou todos os cágados; irmãos e patrícios: contou a aposta que tinha feito com a gazela e combinou com os cágados ficarem à distância de um kilómetro pela estrada fora, uns dos outros. Assim foi. Chegou o dia aprazado, e o cágado foi ter com a gazela, para a avisar, que era aquele o dia da corrida e combinaram o sítio em que deviam parar.
Começaram a correr.
A gazela, no fim de um kilómetro, chamou pelo amigo cágado e perguntou-lhe.
- Então, vens ou não vens?
O que estava parado naquela altura respondeu :
- Vamos embora que eu já aqui vou.
E assim em todos os kilómetros, a gazela quando perguntava pelo seu amigo, recebia a mesma resposta..
A gazela por fim, já não podia mais e disse para o cágado:
- Já não posso correr mais: tenho de considerar a você como um homem de respeito.
E foi assim que o espertalhão do cágado ganhou.
PEDRO A. DE SOUSA E SILVA (Literatura africana de J. Osório de Oliveira)
segunda-feira, 30 de novembro de 2015
O leão e o asno
O leão achava-se neurasténico e sem vontade de perseguir os fracos.
Veio o médico e receitou-lhe distracções e passeios entre as boninas. (flores)
- Talvez lhe fizesse bem o teatro...
O leão saiu do seu covil e logo deu de cara com um burro, a meditar à beira de uma estrada.
- Que fazes por aqui ó pensador solitário?
- Estou a ver se pela sombra, distingo o tamanho das minhas orelhas..
- Não sejas tonto, pois as tuas orelhas são de tal formato,
que só quem for como tu, poderá determinar-lhes a extensão.
Acaso já o Sol pensou em saber até onde chegam os seus raios?
A comparação lisonjeou o orelhudo, que logo zurrou de contentamento.
- Que portentosa voz ! -
Ganharias uma fortuna se te apresentasses em público.
- Os empresários mostram-se exigentes...
- Vem comigo que talvez te não arrependas.
Os dois foram andando mui calados .
A certa altura o leão sugeriu:
- Conserva-te aqui a zurrar, a zurrar sempre, enquanto eu corro a chamar
os tigres, as panteras, e os chacais para te aplaudirem.
O burro, não se fez rogado, acordando com a sua formidável trompa,
os ecos das solidões. Decorrem uma e mais horas. Ninguém aparecia.
- Quis-se rir de mim!- ocorreu-lhe.
E, envergonhado pôs-se a andar na direcção do curral.
Que vêem os seus olhos pasmados?
O leão dormia como um justo, ressonando com fragor, à sombra de uma palmeira.
Utilizara-o como soporífero.
MORAL DA HISTÓRIA
Quando os fortes te elogiam, desconfia deles, e de ti mesmo
JOAQUIM MANSO
Joaquim Manso (Cardigos, Mação, 16 de Novembro de 1878 — Lisboa, 10 de Setembro de 1956) foi um jornalista, fundador do Diário de Lisboa (1921-1990), que se notabilizou como escritor e ensaísta. Dirigiu, também, Diário de Lisboa : edição mensal [ (1933) e foi redactor principal de A Pátria, cargo que ocupou até 1921, ano em que fundou o Diário de Lisboa, de que foi logo director durante 35 anos. Colaborou em diversas publicações periódicas como a revista Arte & vida (1904-1906) e Atlantida (1915-1920).Foi sócio correspondente da Academia das Ciências de Lisboa e professor do Conservatório Nacional de Lisboa, onde regeu a cadeira de Literaturas Dramáticas.
domingo, 29 de novembro de 2015
As abelhas e o cuco do mel (Um conto Angolano)
Um dia uma abelha teve um filho e pediu ao cuco:
- Ó cuco, dás-me uma das tuas penas para enfeitar os cabelos de um filho que me nasceu?
-Dou - disse o cuco ; e, arrancando com o bico uma das penas mais lindas , entregou-a ao insecto, desvanecido com a sua nova maternidade.
Mas o cuco, por sua vez, também teve um filho: e, lembrado do que se passara por ocasião do filho da abelha, entendeu que estava no direito de lhe pedir um favor idêntico.
- Ó abelha - disse ele - dás-me uma das tuas asas, para enfeitar os cabelos do filho que me nasceu?
- Que dizes cuco? Uma das minhas asas? ! E depois? Com que asas hei-de eu voar?
- Abelha, - retorqiu o cuco,formalizando-se - Quando tu me pediste a pena, eu arranquei-a do corpo sem hesitar ; e agora, que te peço a asa, tu respondes-me - tenho só duas?! Então está bem: Conta para o futuro com a vingança do cuco.
Todos sabem como o cuco cumpriu a sua palavra terrível . A abelha não pode esconder em parte nenhuma com segurança o seu mel : vem o malvado, e tanto faz, tanto pia que descobre esses doces tesouros ao homem.
Mais; Se vê um cortiço, arma o bico à entrada, e abelha que sai é uma abelha papada !
D. João Evangelista de Lima Vidal (Por terras de Angola)
João Evangelista de Lima Vidal (Vera Cruz, Aveiro, 2 de abril de 1874 — 5 de janeiro de 1958) foi um religioso português, bispo de Aveiro e membro da Ordem Terceira de São Domingos
(retirado do meu livro de leitura do 1º. ano do ensino liceal 1952
quinta-feira, 26 de novembro de 2015
O cão e o lobo ( Um conto angolano )
Um dia morreu a mãe de um lobo; mas o orfão, sentindo mais fome do que pesar, disse para um cão seu amigo:
-É melhor comê-la : e depois quando morrer a tua, também a comeremos.
- Está dito !
Morreu a mãe do cão. Ora o lobo andava para a caça, e o seu colega pensou assim :
Se a enterro no mato, vem ele, o sempre faminto, sente o cheiro, abre a cova e devora-a ...
Será melhor enterrá-la debaixo da lareira.
Quando o lobo chegou perguntou :
- A tua mãe?
- Morreu e enterrei-a no mato - respondeu o cão.
Mas o carniceiro farejou por toda a parte, interrogou a terra, interrogou os ventos.
Debalde :
Não deu por nada!
Quis procurar na lareira, mas o calor era muito, escaldava-lhe as patas !
O cão, àquela vista rosnava, de si para si:
Eh, amigo, está quente ! Bem me lembra a mim da combinação que foi feita nesse dia em que comemos a tua mãe!
Desde então por diante, quando os cães se querem enrolar ao borralho, dão primeiro duas voltas completas em homenagem à progenitora sepultada na terra quente, e salva por esse estratagema, da dentuça insaciável do lobo...
D. JOÃO EVANGELISTA DE LIMA VIDAL - (Por terras de Angola)
João Evangelista de Lima Vidal (Vera Cruz, Aveiro, 2 de abril de 1874 — 5 de janeiro de 1958) foi um religioso português, bispo de Aveiro e membro da Ordem Terceira de São Domingos
(retirado do meu livro de leitura do 1º. ano do ensino liceal 1952
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