Passam as noites contentes em constante labor,
a limpar as searas de todo o bicho daninho.
Têm qualidades raras, que merecem o carinho
dos homens tão imperfeitos.
Mas têm também os seus defeitos,
como qualquer mortal.
Um tal conheci eu, que era muito fanfarrão.
Porem aconteceu ser castigado e muito bem,
porque os defeitos não ficam bem a ninguém..
Um dia quando ia em companhia doutro sapo seu compadre,
adregou de se afastar um pouco do companheiro,
num lameiro, onde um boi ia pastar.
O pobre louco em tão má hora o fêz
que foi cair sem sentir, sob a pata da rês.
O boi tão mansinho, coitadinho, nem deu por tal;
isto é, nem mesmo viu ao pôr o pé, que pisava aquele bicho tão feio.
Como pastava a bom pastar, nem sequer pensava em se afastar
do lugar, em que se encontrava.
O sapo metia dó, coitado!
Amachucado sem se poder mexer e só, sem ver o compadre,
que ia ser dele?
Aquele, em verdade sentiu a falta do camarada, e vá de gritar
em voz alta;
- Compadre amigo, onde está você?
Não vê que é longa a caminhada?
Venha daí, venha comigo, não vê o perigo de ficar aí sozinho?
O outro, via, via, mas que fazer?
Que remédio, havia de ficar ali muito quieto,
até o boi querer?
Dar a saber ao amigo a causa da sua ausência? Isso é que não!
Santa Paciência...
Antes morrer! -
Fêz-se forte, valentão;
e, mesmo à beira da morte a custo respondeu:
- Compadre amigo, siga o seu caminho,
Custa-me não ir consigo, deixá-lo sózinho;
mas eu
(não veja nisto bravata)
não o posso acompanhar porque tenho de ficar
aqui a segurar, este boi por uma pata...
ABEL SANTOS (?) 1950
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