Quando Nossa Senhora ia andando
pró Egipto,
sobre a burrinnha montada,
temendo alguma cilada
contra o seu Filho bendito.
Já o tremoço era nado e seco,
de cada lado da estrada.
Punham-se as vagens tinindo ,
como quem diz: - «Vão fugindo,
por aqui, pela calada...»
Então a Senhora disse.
pra que sempre se cumprisse
seu pensar :
- « Que nunca pra teu castigo,
tremoço mau, inimigo,
a fome possas matar
Nunca fartarás ninguém ;
crescerás: mas ouve bem,
durará, muito pouco a tua vida,
pois logo a terra, em seguida,
de novo te comerá - »
Mal a Virgem se calou,
um novo susto a tomou
e num ai
ouviu para a dianteira
a codorniz chocalheira
gritar bem alto : - Cá vai!» -
E a modos de quem chamava
o mesmo grito soltava
prazenteira ...
Então, para a castigar
tornou Maria a falar
e disse desta maneira :
-« Por teu grito perseguida
nunca mais em tua vida,
poderás
ver-te ao alto arrebatada :
mas só, rasteira e humilhada
junto à terra voarás !» -
Ora se há muito que vinha
saltitando a arvelinha
na estrada.
Seguindo a Virgem Maria ...
e tão calada seguia,
que até não fora notada .
Contudo, em todo o caminho,
com devoção e carinho,
trabalhando,
com sua cauda varrera
as pegadas que fizera
S. José, ao ir passando.
Ao ver tamanha humildade,
A Virgem Mãe, com bondade,
murmurou :
- «Os mais fortes vencerás!
Bendita sempre serás » !
E sorrindo a abençoou.
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(1) Tradição popular açoreana - O povo da ilha de S. Miguel, chama às arvéolas «galinhas» de Nossa Senhora, e o seu canto é tido como sinal de bom agoiro
Armando Cortes Rodrigues
(Poeta micaelense, contemporãneo )
do seu livro, Em louvor da Humanidade.