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sábado, 25 de maio de 2019

Xosa- A tribo que se extinguiu



A superstição, uma fé cega na feitiçaria, a total dependência económica do gado, e um receio constante da invasão do homem branco, foram os elementos que dominaram a vida dos povos nativos da África do Sul durante o século XIX.


Estes 4 factores intervieram de forma trágica na estranha história de Nongqawuse , uma jovem de 14 anos de idade, pertencente à tribo Xosa  a qual teve uma visão, que provocou a destruição  quase total da sua nação.
Havia décadas que entre a tribo Xosa uma das maiores dos Bantos, e os colonos brancos, que implacavelmente iam avançando pelo território para instalarem fazendas e construirem cidades, haviam surgido querelas sobre a terra, o gado e a mão de obra.
Em 1778 fora estabelecida, ao longo de Fish River, que delimitava os territórios de Ciskei e Transkei, a leste da provincia do Cabo, uma fronteira precária entre os Xosas e os colonos.
Seguiu-se um século de inquietação, roubo de gado e disputas fronteiriças com os fazendeiros  brancos. A seca reduziu os rebanhos dos Xosas que para estes assumiam uma importancia vital, e deixou o gado que sobreviveu em péssimas condições em consquência segundo  os nativos pensavam, das magias perpretados pelos feiticeiros ingleses.
Os ansiãos  e os chefes tribais encontravam-se tão profundamente submetidos á influência exercida pelos feiticeiros como o povo que governavam.
Em 1819 por exempo, o chefe Ndlambe foi persuadido a atacar os brancos em Grahamstown, porque o feiticeiro Makana lhe garantiu que lhe administraria uma poção que tornaria inofensivas as balas daqueles . Na batalha de consequências trágicas para a tribo, morreram, 1000 xosas.
Foi neste ambiente de medo e superstição que em 1856 Nongqause, sobrinha do feiticeiro Umhlakaza, pretendeu ter tido uma visão, que veio a condicionar o futuro dos Xosas.
MENSAGENS DOS ANTEPASSADOS
Tendo ido buscar água ao rio próximo da aldeia, encontrara, segundo contou, 5 negros corpulentos - mensageiros dos espiritos dos seus antepassados. Os espiritos, haviam-se declarado  entristecidos com o declínio da nação Xosa, e tinham decidido aparecer entre o seu povo. Formariam um exército invencível, que expulsaria definitivamente os brancos e restabeleceria a antiga glória xosa. Porém. antes de prestarem o seu auxilio os antepassados exigiam uma prova da total obediência dos Xosas que consequentemente deveriam matar todo o seu gado, destruir todo o seu cereal, e abandonar o cultivo das terras.
Deviam construir novos estábulos para o gado gordo e saudável que viria das habitações ancestrais e cavar grandes silos para o conveniente armazenamento dos cereais das abundantes colheitas que os espíritos lhes trariam.
Só quando as suas instruções fossem devidamente executadas, os espiritos ancestrais, regressariam. Seriam precedidos por um assustador turbilhão de vento que lançaria ao mar todos os que não acreditassem ou não tivessem obedecido às ordens prescritas.
CHEFE PERSUADIDO
O tio de Nongqawuse   convenceu o chefe Kreli, de que a visão da jovem profetisa era uma mensagem autêntica dos antepassados da tribo. Keli ordenou que se procedesse à destruição imediata das colheitas e à matança do gado.
 Quando alguns cépticos se recusaram a obedecer, Nongqause, recebeu outra mensagem. Encontrando-se junto ao rio, a terra rugira sob os seus pés - O rumor dos antepassados descontentes, segundo o seu tio posteriormente explicou. Gentes de todas as
 terras da tribo deslocaram-se expressamente à aldeia de Nongqawuse  para contemplar a lagoa pantanosa que segundo a crença que se generalizara constituia a entrada da habitação dos antepassados. Viram os chifres de bois e ouviram o mugir  do gado impaciente para sair.Outros declaram ter visto, os heróis xosas mortos erguerem-se do Oceano Índico, alguns a cavalo, outros a pé, passando por eles e desaparecendo.
Passararm 10 meses sem que a terra fosse cultivada. Os crentes destruiram as suas colheitas e mataram o seu gado. Milhares de xosas morreram de fome.
Apesar dos avisos, do comissário britãnico Charles Browntree, de que as profecias de Nongqawuse  jamais se realizariam, a tribo recusou-se a trabalhar a terra e continuou a sacrificar o gado.
O DESESPERO
Por fim  Nongqawuse fixou a data do regresso dos antepassados - exatamente no dia 18 de Fevereiro de 1857. Nesse dia o sol nasceria vermelho de sangue e manter-se-ia imóvel no céu. Depois começaria a girar, e por-se-ia de novo a leste. Turbilhões e furacões varreriam violentamente a terra, lançando ao mar os brancos e os xosas descrentes.


Na véspera do grande dia, os xosas enfeitaram-se festivamente com colares e pintaram os corpos. Os que ainda tinham forças suficientes dançaram durante toda a noite, enquanto os outros, esfomeados e enfraquecidos, aguardavam sentados pacientemente o término da sua miséria."Olhando para o retorno dos guerreiros mortos" por FT I'Ons.  Isto é pensado para representar a cena em 18 de fevereiro de 1858:
O sol erqueu-se e descreveu o seu curso lento através do quente céu de Fevereiro - apenas para se ir pôr a oeste como sempre acontecera desde o principio dos tempos. Deixou atrás de si, a amargura e o desalento de um povo famélico.
A tribo desesperada, comeu raízes, amoras e até a casca e a seiva das mimosas. Roeu os ossos e o couro do seu gado há muito morto e invadiu os postos missionários e as aldeias mais importantes em busca de socorro.
Umhlakaza, escondeu-se do seu povo desiludido. O seu projecto de explorar a fome como incitamento contra os brancos falhara, e ele próprio, morreu de fome.
 Nongqawuse foi presa e subsequentemente enviada para uma herdade na província Oriental onde morreu no ano de 1898-seguramente a figura isolada mais trágica da história da África do sul.
E o seu povo? Mais de 20.000 pessoas morreramvítimas da sua crença louca, e dos 43.000 sobreviventes, cerca de 30.000 salvaram-se apenas arranjando trabalho nas herdades dos brancos.







segunda-feira, 21 de novembro de 2016

O rio Zenza o jacaré e o sengue




O rio Zenza, que, não sendo dos maiores rios de Angola, tem contudo um curso superior a duzentos e cinquenta kilómetros, e sómente a nas alturas do posto de Castendo é que se chama Zenza: até aí tem o nome de rio Bengo.

Habitado em quase  todo o seu curso, pela terrível praga de jacarés, que infestam as suas águas, torna-se perigosissima a sua vadeação em quase todos os «matábu», ou portos que os habitantes utilizam na sua passagem.
É frequente o encontro com estes perigosos bichos, ao passar nas suas margens em cujos areais costumam as fêmeas  pôr dez doze e até quinze ovos bracos maiores que de perua e que tanto o macho como a fêmea vigiam atentamente revezando.se nessa vigilância. Desta aturada e cuidadosa vigilância é que nasceu a crendice , ainda arreigada em muitos povos, de que os jacarés chocam os ovos, com a vista.
Ao pressentirem, no choco, a aproximação de qualquer animal, retesam as patas dianteiras, levantando a cabeça, e esperam para a defesa dos seus ovos  E se alguém se aproxima é derrubado a vergastadas da cauda , dadas tão violentamente, que nenhum homem, por valente que seja, é capaz de se aguentar de pé, com tão poderosa chicotada.
Neste ataque, o jacaré, procura sempre atrair a presa ou o inimigo para perto da água; e, logo que o consegue, faz o possível por aplicar a vergastada para o lado do rio, que é o seu elemento e o único campo onde pode lutar com o mais poderoso animal .
Em terra, é fácil a gente livrar-se dos seus ataques. Com um pouco de sangue frio e a vista bem atenta., o jacaré nunca logra vencer um  homem em terra.
Os indigenas costumam roubar-lhe os ovos, de forma curiosa. Logo que descobrem onde o jacaré colocou a postura, dirigem-se para lá, usando de precaução, e levando um cabrito preso a uma corda..
O cabrito começa a berrar:e, enquanto um preto o sustém pela corda, como isco, para atrair a atenção e o apetite do réptil. vai o outro sorrateiramente rastejando proceder à colheita dos ovos , se vê que eles ainda estão capazes.

Como tudo o que existe no mundo, também o jacaré tem um inimigo de respeito, vivendo com ele no mesmo rio, e do qual nunca consegue livrar-se; É o sengue. O sengue é, como o jacaré um grande lagarto, atingindo por vezes o comprimento de um metro e meio, mas não tem mais grossura que um braço de homem . Sendo quase tão comprido como o jacaré,não é mais grosso que uma das suas pernas. É por isso mesmo, mais ágil e tem os dedos providos de unhas córneas, rijas, de oito a dez centímetros. e dentes afiadíssimos. Dispõe de uma prodigiosa força mandibular . Odeia o jacaré e persegue-o com uma sanha feroz mostrando por ele um ódio surdo, como costumam sentir os fracos pelos fortes.
Assim que avista o jacaré, lança-se em sua perseguição, furtando-se hábil, e ligeiramente aos seus ataques e logo que pode tenta passar-lhe sob o ventre, fila-o fila-o e crava-lhe nos sovacos as suas potentes e aceradas unhas, obrigando-o a sangrar, sem que o jacaré lhe possa fazer qualquer dano.
O jacaré vai perdendo sangue, e, com ele, vão-lhe fugindo, as forças.
Depois de três horas de luta, resta um cadáver de jacaré a boiar na água e um sengue, oculto num recôncavo da margem , prostrado pelo cansaço.


F. SANTOS SERRA FRAZÃO (Cinco anos em Angola 1952)




        (retirado do meu livro de leitura do 1º. ano do ensino  liceal  1952

O "doutor da selva"




Há pouco menos de um século, a cerrada selva do Gabão foi cenário de uma insólita história de amor.
O seu protagonista, um jovem alsaciano que mais tarde chegaria a ser conhecido mundialmente.

 O seu nome: Abert Schweitzer.

 Filósofo  intelectual, catedrático de teologia, médico e provávelmente, o melhor intérprete das obras de Bach,  um dia decidiu deixar um mundo que lhe prometia tudo e ir para a selva do Gabão, acompanhado pela mulher Elena Brasslau .

Os horrores descritos pelos seus colegas e amigos sobre os deserdados de África, motivaram o casal a viajar até Lambarené, nas margens do rio Ogooué, onde existia uma Missão.

Ali à força de pulso e vontade, Schweitzer ergueu um hospital, para dar ajuda e alívio aos nativos.
Pouco a pouco a fama do hospital de Lambarené  do "doutor da selva" estendeu-se a todo o Gabão, até chegar à Europa e a sua fama apesar da sua humildade estendeu-se a todo o mundo, e o reconhecimento internacional  - onde se incluiu  o Prémio Nobel da Paz - multiplicou-se ano após ano .
Schweitzer tinha  encontrado o seu caminho e um sentido para a sua vida  naquele hospital   que crescia de dia a dia dia, que anos depois da sua morte ainda mantém  a herança do seu espirito altruista.
.
Num continente em que havia  uma enfermeira para três mil habitantes e um número de médicos ainda menor, o  hospital é  uma ilha de esperança para as sua gentes.



Hoje em dia, o Hospital Schweitzer em Lambaréné é um  hospital com  novas e modernas instalações  que vieram dar  relevo, à antiga casa dos Schweitzer e o povoado  um  local de culto e visitado por turistas de todo o mundo, onde é possível visitar o local, tal e qual como o casal o deixou, em homenagem a este grande homem que nas palavras de Einstein foi o «maior do nosso  século»

Os restos mortais de Abert Schweitzer, repousam para sempre na pequena localidade de Lambaréné


Quando o homem aprender a respeitar até o menor ser da criação, seja animal ou vegetal, ninguém precisará ensiná-lo a amar seus semelhantes.



sexta-feira, 24 de junho de 2016

Ganvié .- A Veneza africana

Ganvié ao amanhecer

Há mais de duzentos anos, um povo pacífico, chegou ao lago Nokoué, (Benim) fugindo das tropas hostis do norte. As terras do interior do Daomé não produziam alimento suficiente para manter todos os povoados, e os clãns guerreiros expulsaram os mais fracos. Na sua fuga os Tofinu, o povo errante chegou às margens do grande lago. No interior esperáva-os o desconhecido, mas também, os aguardava a paz.



A religião dos reinos do Daomé, proíbia os seus guerreiros de entrar na água, e a  perseguição, tinha acabado e a lenda do povo que aprendeu a viver sobre as águas, e veio engrossar a lista de maravilhas do actual Benim. O resultado desse êxodo é agora um próspero povoado flutuante com dois séculos de existência a que deram o nome de Ganvié.


Conhecido como Veneza africana, Ganvié, é um centro de comércio e turismo que atrai gente de todo o mundo. A sua fama cresceu juntamente com a povoação e agora vivem sobre palafitas de bambú, ( tipo de habitação construída sobre troncos ou pilares) mais de doze mil pessoas.




Os habitantes de Ganvié, fazem a sua vida  sobre as suas estilizadas canoas que lhes servem de transporte, lugar de reuniões e ainda como local de trabalho .


Todos os dias à mesma hora, as mulheres do povoado reúnem as suas embarcações, num canal. Nela transportam as mercadorias os produtos que porão à venda no mercado flutuante.

Ninguém parece ter saudades de terra firme As suas canoas são o seu chão, a união entre a água salvadora e o mundo da superfície.
Por entre as bancas  flutuantes de frutas e verduras é frequente ver passar canoas um pouco maiores carregadas de ramos tenros. Esses mesmos ramos encontram-se em diferentes pontos, sobressaindo na água, como se fossem pequenos bosques inundados. Na realidade são o produto de uma das mais originais formas de pesca de todo o continente.
A pesca começa quando os homens da povoaçao cortam ramos ns imediações do lago.
Depois transportam-nos até ao local escolhido, e espetam-nos no solo lodoso.
Pouco a pouco vão formando um pequeno bosque. um labirinto de ramos.

 Com o passar do tempo as folhas vão apodrecendo, e atraem os peixes que se aproximam para as comer e para se esconderem dos seus predadores. Depois de vários pequenos bosques terem sido plantados, os homens regressam ao primeiro onde os peixes já tiveram tempo de se esconder. Sacam então de umas redes grandes e cercam o bosque artificial formando um circulo. O ardil está montado. Sabendo que os peixes já não podem escapar, os pescadores entram no recinto e começam a arrancar oa paus, e começa a recolha.

A pesca é uma actividade muito importante no Ganvié e todos os membros da povoação vivem quase exclusivamente dela. De regreso à povoação acompanhando os pescadores, grupos de crianças saem à rua, felizes e alvoraçadas.
São imagens de vida em  pleno de um  pequeno território  a que deram e muito bem o nome de Veneza Africana



segunda-feira, 20 de junho de 2016

O paraíso dos Bosquímanos (II)




 Os Bosquímanos, indígenas primitivos que habitam as orlas do deserto do Calaári, na África do Sul, um povo pobre, segundo os padrões de vida mundiais, conhecem segundo a lenda, um oásis secreto oculto entre as dunas escaldantes deste deserto, cujo solo está juncado de um número imenso de enormes diamantes.
Conta-se que apenas um homem branco, um soldado que se perdeu da sua patrulha, no deserto, foi dado contemplar esse fabuloso, oásis.




Capturado e conduzido ao local pelos Bosquímanos, o soldado conseguiu fugir e obter fundos que lhe permitiriam financiar uma expedição que faria a sua fortuna.


Foi encontrado morto, semanas mais tarde, com o coração trespassado por uma seta de bosquímano.
Na sua algibeira encontravam-se um mapa assinalando o caminho para o local onde se ocultava o tesouro e vários diamantes em bruto. Ninguém ainda conseguiu decifrar o mapa, pelo que o oásis diamantífero continua à espera de ser descoberto
















terça-feira, 7 de junho de 2016

A caça ao antílope




Quando qualquer tribo resolve dar batalha aos antílopes que povoam as florestas, informa-se primeiro, das posições em que estes ùltimamente se encontraram, quais os caminhos que trilham e os pontos enfim, onde com frequência bebem água.



Combinado o dia da caçada, reúnem-se todos os homens da senzala em ponto não muito distante daquele onde se supõe estarem os animais, fazendo-se acompanhar dos seus rafeiros meio selvagens, com mais aspecto de chacais do que de animais domésticos, focinho ponteagudo, pêlo ouriçado, muito magros e por eles exclusivamente ensinados para tal fim.



A inteligência dos aborígenes consiste no conhecimento perfeito dos hábitos destes animais, e do partido que sabem tirar da sua incrível ligeireza corporal.



Armados de arcos, setas, zagaias, e com os competentes rafeiros, divide-se o troço de caçadores em duas fracções: uma a maior, passa para o lado do vento, largando seguidamente fogo ao mato, na extensão de alguns kilómetros; a outra espalha-se logo em semicírculo pela banda oposta a fim de tomar o passo a quantos bichos ameaçados pelas chamas, intentarem fugir pelos pontos não invadidos.



Começa então uma cena verdadeiramente interessante. Correm, saltam, apertam os pobres animais num círculo de ferro e fogo e,  no meio de gritos latidos, urros e detonações, envolvem o campo de acção, entregando-se a completo delírio.


Estabelece-se a luta terrível. De uma parte, os antílopes aterrados com a vista das chamas próximas e ataques repetidos dos cães, defendem a sua existência a todo o transe; da outra, os indígenas no meio de toda esta confusão, desenvolvendo incrível actividade, vibram golpes em todos os sentidos.


... Ao cair da tarde, a atmosfera, assombrada pelo fumo da grande fogueira, reflete os pálidos clarões do último gigante da floresta, que arde; o crepúsculo, invadindo o vasto recinto esbraseado, deixa ver iluminadas, essas centenas de homens cobertos de cinzas e de sangue, intrépidos entre as derradeiras línguas de fogo, de armas em punho, derribando o inimigo, com certeiros golpes.

ao sacrifício de tantas vítimas indefesas, não deixa de ser grandioso o quadro a que, à semelhança de cataclismos, somos em poucas horas, transportados por um bando de homens perseguidos pelo desejo e necessidade de se alimentarem, em regiões onde o mais simples recurso custa às vezes a existência!




H. Capelo e Roberto Ivens (De Benguela às Terras d Iaca)
      


  (retirado do meu livro de leitura do 1º. ano do ensino  liceal  1952



Batuque



batuque:
Há um preceito que todo o indígena cumpre; a dança.
Batuque que lhe conste , a léguas de distãncia que e  se realize, longe que o fareje, ele aí vai, traje  de gala - plumas de avestruz, de algrete, de outras aves, cobrindo-lhe a cabeça ; uma pele de animal selvagem envolvendo-lhe o tronco; anilhas pelos braços ; amuletos ao peito: rabos de boi pendendo-lhe dos braços e das pernas.


E o batuque vem a propósito de tudo: casamento, nascimento, morte; a propósito de um facto notável; a qualquer pretexto, ou até o que é mais simples, a pretexto algum.
Mas o fim do batuque não é como pode parecer , dançar: é beber ! Por isso a dança vai terminando naturalmente,  por falta de gente, que  ébria, vai ficando a dormir...
Fica bem definida a atracção, que todo o indígena tem para a dança - o batuque - , afirmando o que os europeus sintetizam nesta frase : -
« É preciso que um homem ou uma mulher, de qualquer idade  que seja se ache impossibilidade de se mover, para resistir ao apelo do batuque».



Ainda que em alguns casos a música do batuque seja harmónica, na maioria das vezes, não o é. Pelo contrário, simples ruídos, constantemente repetidos horas e dias, marcam o compasso da dança. A letra é quase sempre sem significado, ou pouco a propósito.


Que ninguém julgue que o indigena de outras nações coloniais é mais civilizado que o da África Oriental Portuguesa ! Meio e natureza iguais produzem individuos iguais.
Apenas o trabalho dos Missionários, desprendidos do mundo, têm conseguido fazer do indígena esta coisa dificil - um homem.


M.C. - África misteriosa -  Moçambique 1952


        (retirado do meu livro de leitura do 1º. ano do ensino  liceal  1952

domingo, 17 de abril de 2016

Costumes Cuanhamas

Os cuanhamas, porque se dedicam à agricultura e á criação de gado, têm de dividir o trabalho.
O trabalho do campo, excepto o arroteamento e a vedação, pertence ás mulheres, que estão encarregadas também das ocupações domésticas.
Por outro lado, tudo o que se refere ao gado é ocupação dos homens. É claro que esta divisão, de tarefas não exclui que o homem não ajude casualmente a mulher na monda do mantimento, nem que a mulher se junte aos homens para no campo seco dessedentar todo o gado tirando a água muitas vezes de poços fundos com meios primitivos.
Uma ocupação ocasional, reune  igualmente homens e mulheres; a pesca que se pratica todos os anos com grande êxito pelos indígenas, que habitam as margens do Cuvelai, quando as águas nas lagoas baixam suficientemente.
Mais ao sul, ela só é possível nos anos de grandes cheias. Os homens servem-se de uma espécie de arpão, fixado a uma aste de madeira. As mulheres utilizam cestos especiais.

Todas s mulheres conhecem a arte de fabricar cestos. O material de que se servem é a folha fibrosa de palmeira- leque, que é bastante resistente.


 Nenhum homem pode também ignorar a maneira como se fazem os cestos grandes, que servem para celeiros. O material é fornecido pela copaífera que dá as vergas, tirando-se as correias da casca. Depois de pronto, o cesto, leva uma ligeira camada de barro no interior, o que é outra vez trabalho de mulheres.


Como todos os povos, os Cuanhamas conhecem a separação do trabalho por profissões, umas exclusivamente de homens outras de mulheres.
Que a caça e o trabalho dos metais, não surpreende ninguém, mas espanta que eles exerçam também o ofício de «modistas». De facto, assim é.
A peça principal do vestuário feminino, é preparada, cortada e provada por homens especializados .

De todos os ofícios o de ferreiro é o mais considerado, envolvendo os que o praticam de um certo nimbo sobrenatural. Segundo a crença destes povos, a arte de transformar umas «pedras» em ferro, não se obtém apenas pelas forças naturais, sendo preciso uma intervenção sobrenatural. Por isso o acto mais importante antes da fundição, é a chamada «cura das pedras» que consiste na invocação dos espíritos dos antepassados e na oferta de diversos pequenos sacrificios.

Apesar desta superstição os ferreiros cuanhamas, são hábeis e célebres sabendo muito bem, temperar o metal
. Ferreiro Cuanhama:



O minério encontra-se em certos sítios da floresta, ao norte da terra habitada. É de fácil extracção encontrando-se muitas vezes à flor do solo. Para fazer provisão do ferro, os ferreiros de todas as tribos, deslocavam-se antigamente no tempo seco de Agosto até Novembro, para a região das minas, levando as familias e o gado.


Hoje em dia, a exploração das minas encontra-se bastante decaída. Felizmente, porém ainda há uns pequenos raros representantes da corporação, que conservaram as tradições antigas.
Uma vez a pequena aldeia  instalada na floresta os ferreiros começam o trabalho, dedicando-se uns á fundição do minério outros á arte de forjar.



Forno Cuanhama:
O bloco depois de frio, é esmagado pelo peso de uma pedra, e os pedacinhos de ferro, são em seguida trabalhados na forja, transformando-se em parte  em utensílios como, enxadas, machadas ou em armas: flechas. zagalas, punhais, em parte em pequenos cubos que levam para a terra depois de acabar a estação das minas

A forja consiste essencialmente na fogo que arde no chão e que é intensificado pelo sopro de dois foles opostos. Uma pedra faz função de bigorna. O martelo tem a forma de um badalo e é muito pesado. Uma tenaz com anilha móvel, completa a ferramenta.


Como são dignos de admiração   estes  ferreiros cuanhamas que com instrumentos tão primitivos conseguem executar trabalhos como pontas de flechas, e até agulhas,etc...!
A village of the tribe Cuanhamas in the  South of Angola.:
Aldeia Cuanhama

Padre Carlos Estermann e Elmano da Cunha e Costa - Angola 1950


O Padre Carlos Estermann foi um dos maiores e melhores estudiosos dos povos nativos de Angola e editou inúmeras obras de grande valor ciêntifico e histórico

sexta-feira, 8 de abril de 2016

Um perfume de violetas




Empenhado em subjugar os ferozes Zulus, o exército inglês invadiu a Zululândia  (Reino Zulu) em 1879. A campanha começou mal, com o aniquilamento completo de uma coluna britãnica em Isandhlwana.


Como reforço foram rápidamente  enviadas tropas de Inglaterra, nas quais seguiu incorporado o príncipe imperial de França filho único do exilado Napoleão III  e da antiga imperatriz Eugénia.

O jovem príncipe estritamente proíbido de correr riscos desnecessários, foi autorizado a incorporar-se numa coluna de vanguarda.


 
Ao cair numa emboscada armada pelos Zulus, o cavalo do príncipe encabritou-se e arremessou-o ao chão. Os Zulos aproximaram-se com as lanças em riste, e mataram o príncipe e os dois oficiais que o acompanhavam. 

No dia seguinte os três foram sepultados juntos.

Um ano depois a raínha Vitória autorizou Eugénia a visitar a Zululãndia  (Reino Zulu) e a recuperar o corpo do filho.

A erva e os arbustos que cobriam o monte de pedras que assinalava a sepultura dificultavam a sua localização . De repente Eugénia exclamou: «Cheira-me a violetas - foram sempre a sua flor preferida». E correu sem qualquer hesitação até um determinado ponto, descobrindo de facto a sepultura do filho.

Teria a imperatriz sido guiada pelo além túmulo?

       
                                                                  
                                       
Filho do Imperador Napoleão lll e da Imperatriz Eugénia de Montijo de origem espanhola, Napoleão Eugénio Luís João José Bonaparte, foi príncipe imperial de França sendo o herdeiro do trono, até 1871, quando foi proclamada a República .
De muito boa aparência e de  esmerada educação foi no seu tempo assediado por vários monarcas europeus  que desejavam negociar casamentos para as suas filhas.

Nasceu em Paris em 1856 e morreu na África do Sul, em 1879 .



Dizia-se que o príncipe estaria sentimentalmente unido à princesa Beatriz do Reino Unido o que explicaria a participação dele nas batalhas que os ingleses travavam nas suas colónias

                                                          


                                                                       ¸.•*¨✿         





domingo, 6 de março de 2016

Os Himba





Onde o rio Cunene marca a fronteira da Namíbia com Angola, estende-se um território semi árido onde uma tribo de criadores de gado se instalou de forma permanente: os himba. Os quase   três mil himbas que ocupam 50 mil kilómetros quadrados da Kaokoland são oriundos de um grupo muito mais extenso de pastores de idioma herero.

Inicialmente nómadas, o povo, himba foi-se tornando sedentário, devido à localização dos poços de água.

Tanto os homens como as mulheres são fácilmente reconhecíveis pelo seu porte e beleza.
A imagem é muito importante para eles, dando atenção às roupas e adornos.
Mas mais pelo vestuário os himbas são facilmente reconhecidos pelo seu tom de pele avermelhada . A cor provém de uma tinta que as mulheres utilizam com frequência e para a produzir moem algumas pedras de ferro oxidadas até conseguirem uma mistura de pó ocre com gordura de animal.
Da mistura obtem-se um creme espesso e avermelhado que espalham pelo corpo e até pelas roupas tingindo tudo de vermelho.

A tinta vermelha é a base de uma imagem cuidada, completada pelos adornos, roupas de couro, e penteados complicados. Não retiram os adornos durante o dia. Inclusivamente, para os trabalhos mais duros, os homens e as mulheres, são ataviados com todo o conjunto de adornos.No dia a dia  dos himbas o trabalho é constante durante as horas em que há luz, tratando e alimentando o gado. A tarefa diária de moer o milho ainda se realiza utilizando os pilões de pedra, tal como no Neolítico . 
 Antigamente e quando nómadas, os himba os povoados ficavam apenas a alguns meses do mesmo local mas agora como os poços têm permanentemente água, os povoados são fixos e as casas têm de ser reparadas, constantemente .
Por  tal motivo os himbas recorrem mais uma vez ao seu gado.





O gado é o centro da vida dos himba.Dele extraem o leite e o requeijão  à base da sua dieta, o esterco com que constroem as casas, e o couro com que se vestem.Por esta razão, o cuidado e a protecção do gado, convertem-se na principal tarefa desta tribo e a mais importante para todos!

smilieLuzB

sábado, 27 de fevereiro de 2016

Bosquímanos (I)

Para oeste e longe da influência híbrida do Delta, abre-se um território de savanas que faz fronteira com as terras da Namibia. No meio da planície, ergue-se uma montanha sagrada, que esconde vestígios das antigas populações, cuja arte pictórica remonta a vinte mil anos.
São pinturas rupestres de um povo, que outrora se estendia por quase todo o continente e hoje se encontra reduzido a pequenos povoados nos desertos do cone sul africano .


Entre o século XIII e XV . duas vagas sucessivas de tribos bantus vindas do Norte, expulsaram algumas tribos nómadas que habitavam a  região da África do Sul.
Alguns grupos aprenderam com os invasores as técnicas da criação de gado e da agricultura, e ficaram conhecidos mais tarde como hotentotes.Os que se mantiveram fiéis à pratica da caça e da recolecção, foram baptizados com o nome de bosquímanos pelos primeiros conquistadores europeus.


TSODILO E ARTE RUPESTRE
Eram descendentes dos artistas que pintaram as rochas da montanha.
Tsodilo é hoje depois de os bosquímanos terem deixado de pintar as pedras há séculos, um lugar sagrado para a sua gente.

Nas suas constantes migrações pelo local   sobem à rocha dos seus antecessores  e reverenciam as almas dos seus irmãos de origem.
Tsodilo, é para eles um local onde habitam os espíritos.

Os bosquímanos também conhecidos como «homens amarelos» vivem recolhidos no interior do Kalahari.
São pequenos, têm traços mongolóides e adaptaram-se ao deserto de uma forma admirável. Ninguém consegue sobreviver numa terra tão pobre como eles.



COSTUMES E SOBREVIVÊNCIA
Para combater a falta de água - no Kalahari chovem entre 100 a 500 milímetros de àgua por ano - os homens têm várias alternativas.
Uma delas reside oculta no interior da terra.
Trata-se de um bolbo carnudo de uma planta que guarda nas suas raízes esponjosas, um líquido amargo que alivia a sede e pode servir igualmente para tomar banho ou refrescar os homens nas tórridas planicies do deserto. Além de bolbos e raízes que lhes proporciona bebida e comida, os bosquímanos extraem do solo uma arma poderosa. Servindo-se de fortes cajados ou barras metálicas obtidas em intercâmbio com as tribos vizinhas, cavam no local adequado um buraco à procura de umas esferas diminutas, com aspecto de cerâmica. Pouco a poucm  as pequenas esferas vêm à superfície. Quando conseguem as suficientes, regressam ao povoado .

ARTE E ENGENHO
As esferas são afinal o invólucro de larva de um escaravelho
cujos fluídos corporais produzem um veneno mortal que os bosquímanos utilizam nas suas flechas. Primeiro recolhem as setas que irão utilizar na próxima caçada, reparam-nas e são impregnadas do veneno que se produz em seguida .
Pegam nas esferas uma a uma e com mãos treinadas vão retirando do interior as pequenas larvas.
Arrancam-lhes a cabeça, e como se de um tubo de cola se tratasse, espremem o interior do animal pata um recipiente
Pouco a pouco na tigela de barro vai-se acumulando um líquido amarelo de aspecto ambarino.Entretanto um dos caçadores mastiga uma raíz de uma planta, e cospe o suco sobre o veneno das larvas, misturando os dois líquidos. O resultado é um veneno capaz de matar um homem em pouco tempo e do qual não se conhece antídoto.


LAZER
Quando cai a noite sobre a terra dos bosquímanos o som ritmico das suas canções, e dos seus bailes quebra o silêncio do deserto e da savana. Geralmente dançam para se divertirem, mas nas nas noites de lua cheia, executam uma dança purificadora . Os homens dançam em circulo à volta das mulheres e as crianças dançam e marcam o ritmo com palmas .


RITUAL
O bruxo da aldeia dirige as cerimónias Umas vezes o bruxo rompe o círculo, e atira-se para as chamas até que as mulheres o puxam para que as purifique: outras vezes aproxima-se das crianças e infunde-lhes o espírito benigno que afugentará os espíritos daninhos da morte e da doença.
O bruxo da aldeia dirige as cerimónias

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