A superstição, uma fé cega na feitiçaria, a total dependência económica do gado, e um receio constante da invasão do homem branco, foram os elementos que dominaram a vida dos povos nativos da África do Sul durante o século XIX.
Estes 4 factores intervieram de forma trágica na estranha história de Nongqawuse , uma jovem de 14 anos de idade, pertencente à tribo Xosa a qual teve uma visão, que provocou a destruição quase total da sua nação.
Havia décadas que entre a tribo Xosa uma das maiores dos Bantos, e os colonos brancos, que implacavelmente iam avançando pelo território para instalarem fazendas e construirem cidades, haviam surgido querelas sobre a terra, o gado e a mão de obra.
Em 1778 fora estabelecida, ao longo de Fish River, que delimitava os territórios de Ciskei e Transkei, a leste da provincia do Cabo, uma fronteira precária entre os Xosas e os colonos.
Seguiu-se um século de inquietação, roubo de gado e disputas fronteiriças com os fazendeiros brancos. A seca reduziu os rebanhos dos Xosas que para estes assumiam uma importancia vital, e deixou o gado que sobreviveu em péssimas condições em consquência segundo os nativos pensavam, das magias perpretados pelos feiticeiros ingleses.
Os ansiãos e os chefes tribais encontravam-se tão profundamente submetidos á influência exercida pelos feiticeiros como o povo que governavam.
Em 1819 por exempo, o chefe Ndlambe foi persuadido a atacar os brancos em Grahamstown, porque o feiticeiro Makana lhe garantiu que lhe administraria uma poção que tornaria inofensivas as balas daqueles . Na batalha de consequências trágicas para a tribo, morreram, 1000 xosas.
Foi neste ambiente de medo e superstição que em 1856 Nongqause, sobrinha do feiticeiro Umhlakaza, pretendeu ter tido uma visão, que veio a condicionar o futuro dos Xosas.
MENSAGENS DOS ANTEPASSADOS
Tendo ido buscar água ao rio próximo da aldeia, encontrara, segundo contou, 5 negros corpulentos - mensageiros dos espiritos dos seus antepassados. Os espiritos, haviam-se declarado entristecidos com o declínio da nação Xosa, e tinham decidido aparecer entre o seu povo. Formariam um exército invencível, que expulsaria definitivamente os brancos e restabeleceria a antiga glória xosa. Porém. antes de prestarem o seu auxilio os antepassados exigiam uma prova da total obediência dos Xosas que consequentemente deveriam matar todo o seu gado, destruir todo o seu cereal, e abandonar o cultivo das terras.Deviam construir novos estábulos para o gado gordo e saudável que viria das habitações ancestrais e cavar grandes silos para o conveniente armazenamento dos cereais das abundantes colheitas que os espíritos lhes trariam.
Só quando as suas instruções fossem devidamente executadas, os espiritos ancestrais, regressariam. Seriam precedidos por um assustador turbilhão de vento que lançaria ao mar todos os que não acreditassem ou não tivessem obedecido às ordens prescritas.
CHEFE PERSUADIDO
O tio de Nongqawuse convenceu o chefe Kreli, de que a visão da jovem profetisa era uma mensagem autêntica dos antepassados da tribo. Keli ordenou que se procedesse à destruição imediata das colheitas e à matança do gado.
Quando alguns cépticos se recusaram a obedecer, Nongqause, recebeu outra mensagem. Encontrando-se junto ao rio, a terra rugira sob os seus pés - O rumor dos antepassados descontentes, segundo o seu tio posteriormente explicou. Gentes de todas as
terras da tribo deslocaram-se expressamente à aldeia de Nongqawuse para contemplar a lagoa pantanosa que segundo a crença que se generalizara constituia a entrada da habitação dos antepassados. Viram os chifres de bois e ouviram o mugir do gado impaciente para sair.Outros declaram ter visto, os heróis xosas mortos erguerem-se do Oceano Índico, alguns a cavalo, outros a pé, passando por eles e desaparecendo.
Passararm 10 meses sem que a terra fosse cultivada. Os crentes destruiram as suas colheitas e mataram o seu gado. Milhares de xosas morreram de fome.
Apesar dos avisos, do comissário britãnico Charles Browntree, de que as profecias de Nongqawuse jamais se realizariam, a tribo recusou-se a trabalhar a terra e continuou a sacrificar o gado.
O DESESPERO
Por fim Nongqawuse fixou a data do regresso dos antepassados - exatamente no dia 18 de Fevereiro de 1857. Nesse dia o sol nasceria vermelho de sangue e manter-se-ia imóvel no céu. Depois começaria a girar, e por-se-ia de novo a leste. Turbilhões e furacões varreriam violentamente a terra, lançando ao mar os brancos e os xosas descrentes.
Na véspera do grande dia, os xosas enfeitaram-se festivamente com colares e pintaram os corpos. Os que ainda tinham forças suficientes dançaram durante toda a noite, enquanto os outros, esfomeados e enfraquecidos, aguardavam sentados pacientemente o término da sua miséria.
O sol erqueu-se e descreveu o seu curso lento através do quente céu de Fevereiro - apenas para se ir pôr a oeste como sempre acontecera desde o principio dos tempos. Deixou atrás de si, a amargura e o desalento de um povo famélico.
A tribo desesperada, comeu raízes, amoras e até a casca e a seiva das mimosas. Roeu os ossos e o couro do seu gado há muito morto e invadiu os postos missionários e as aldeias mais importantes em busca de socorro.
Umhlakaza, escondeu-se do seu povo desiludido. O seu projecto de explorar a fome como incitamento contra os brancos falhara, e ele próprio, morreu de fome.
Nongqawuse foi presa e subsequentemente enviada para uma herdade na província Oriental onde morreu no ano de 1898-seguramente a figura isolada mais trágica da história da África do sul.
E o seu povo? Mais de 20.000 pessoas morreramvítimas da sua crença louca, e dos 43.000 sobreviventes, cerca de 30.000 salvaram-se apenas arranjando trabalho nas herdades dos brancos.
Muito interessante esta historia da Africa sempre misteriosa, parabéns amiga esta muito bem escrito e ilustrado perfeito, agora sim estou mais calma e vou tentar dormir!
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