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quinta-feira, 30 de novembro de 2023

Poemas inconjuros

 

A espantosa realidade das coisas

É a minha descoberta de todos os dias

Cada coisa é o que é .

E é difícil explicar a alguém quanto isso me alegra

E quanto isso me basta

                                                                           Basta existir para se ser completo.

domingo, 30 de outubro de 2022

***

 

Leve, breve, suave 

Um canto de ave 

Sobe no ar com que principia 

O dia.

Escuto, e passou...

Parece que foi só porque escutei 

Que parou.

Nunca, nunca, em nada,

Raie a madrugada,

Ou splenda o dia, ou doire no declive 

Tive

Prazer a durar 

Mais do que o nada, a perda, antes de eu o ir 

Gozar.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

Sabes quem eu sou? Eu não sei .



Sabes quem eu sou? Eu não sei.
Outrora, onde o nada foi
Fui o vassalo e o rei,
É dupla a dor que me dói.
Duas dores eu passei.


 Fui tudo o que pode haver
Ninguém me quis esmolar;
E entre o pensar e o ser
Senti a vida passar
Como um rio sem correr

Fernando Pessoa
Poesias inéditas
(1930-1935) 1955

          « Estrangeiro aqui e em toda a parte»

Pessoa viveu como o Marinheiro do seu drama simbolista, por conta de um futuro que ainda não existe . É a leitura dos seus poemas quem o faz  adivinhar e apetecer . Há meio século isso era mais sensível para quem o descobria, e nele se descobria do que hoje, em que se tornou o lugar comum da cultura portuguesa e um ícone incontestável da cultura universal . O que ele desejou a vida inteira foi estar nu, nu culturalmente como ninguém  antes dele o estivera, pois não havia verdade ou verdades que pudessem ou tivessem o condão de o vestir.

Na ordem aparente da vida, o seu sonho fracassou inteiramente .
 Ninguém suportou a sua nudêz.

Todos nos consertámos para lhe oferecer a pátria que não teve, não queria e não podia ter.
Pessoa clamou isso em todos os tons, do fundo do poço com vista virtual para um céu que não o podia ouvir.
 Tem hoje a superpátria, que nem mesmo nos seus sonhos mais vertiginosos não se atrevera a imaginar. . Nunca esteve mais só, que no seu trono de pura glória. E já ninguém o pode devolver à sua solidão original, tão rente à alma de onde surgiam, como do caos mesmo os poemas onde ele era o absoluto estrangeiro de si mesmo,

 LuzB
                           

segunda-feira, 19 de outubro de 2020

Do Livro do Desassossego

A minha imagem, tal qual eu a via nos espelhos, anda sempre ao colo da minha alma. 
Eu não podia ser senão curvo e débil como sou, mesmo nos meus pensamentos. 
Tudo em mim é de um príncipe de cromo colado no album velho de uma criancinha que morreu sempre há muito tempo. 
Amar-me é ter pena de mim.
 Um dia, lá para o fim do futuro, alguém escreverá sobre mim um poema, e talvez só então eu comece a reinar no meu Reino.

Deus é o existirmos, e isto não ser tudo...

 ¸¸.•*•❥¸¸.•*•❥
 É impossível não sentir uma certa emoção com a leitura da opinião que Pessoa tem de si mesmo.
Vezes sem conta  li este capítulo  o nº 22 do Livro do Desassossego ...Em mim há um misto de emoções......Pensar que para lá  do futuro e como ele vaticinou, mas mal imaginaria a dimensão, o "seu Reino" quase um século depois, é conhecido e admirado em todos os cantos do mundo!

Verdadeiramente, um ser humano  extraordinário!...

     

sábado, 9 de setembro de 2017

Quadras ao Gosto Popular.

As gaivotas, são tantas. tantas

As gaivotas, são tantas. tantas
Voam no rio pró mar ...
Também sem querer encantas.
Nem é preciso voar.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

Carta a Ophélia Queiroz




Ophelinha:
Agradeço a sua carta. Ela trouxe-me pena e alívio ao mesmo tempo. Pena, porque estas coisas fazem sempre pena; alívio, porque, na verdade, a única solução é essa — o não prolongarmos mais uma situação que não tem já a justificação do amor, nem de uma parte nem de outra. Da minha, ao menos, fica uma estima profunda, uma amizade inalterável. Não me nega a Ophelinha outro tanto, não é verdade?

Nem a Ophelinha, nem eu, temos culpa nisto. Só o Destino terá culpa, se o Destino fosse gente, a quem culpas se atribuíssem.
O Tempo, que envelhece as faces e os cabelos, envelhece também, mas mais depressa ainda, as afeições violentas. A maioria da gente, porque é estúpida, consegue não dar por isso, e julga que ainda ama porque contraiu o hábito de se sentir a amar. Se assim não fosse, não havia gente feliz no mundo. As criaturas superiores, porém, são privadas da possibilidade dessa ilusão, porque nem podem crer que o amor dure, nem, quando o sentem acabado, se enganam tomando por ele a estima, ou a gratidão, que ele deixou.
Estas coisas fazem sofrer, mas o sofrimento passa. Se a vida, que é tudo, passa por fim, como não hão-de passar o amor e a dor, e todas as mais coisas, que não são mais que partes da vida?

Na sua carta é injusta para comigo, mas compreendo e desculpo; decerto a escreveu com irritação, talvez mesmo com mágoa, mas, a maioria da gente — homens ou mulheres — escreveria, no seu caso, num tom ainda mais acerbo, e em termos ainda mais injustos. Mas a Ophelinha tem um feitio óptimo, e mesmo a sua irritação não consegue ter maldade. Quando casar, se não tiver a felicidade que merece, por certo que não será sua a culpa.

Quanto a mim...
O amor passou. Mas conservo-lhe uma afeição inalterável, e não esquecerei nunca — nunca, creia — nem a sua figurinha engraçada e os seus modos de pequenina, nem a sua ternura, a sua dedicação, a sua índole amorável. Pode ser que me engane, e que estas qualidades, que lhe atribuo, fossem uma ilusão minha; mas nem creio que fossem, nem, a terem sido, seria desprimor para mim que lhas atribuísse.
Não sei o que quer que lhe devolva — cartas ou que mais. Eu preferia não lhe devolver nada, e conservar as suas cartinhas como memória viva de um passado morto, como todos os passados; como alguma coisa de comovedor numa vida, como a minha, em que o progresso nos anos é par do progresso na infelicidade e na desilusão.
Peço que não faça como a gente vulgar, que é sempre reles; que não me volte a cara quando passe por si, nem tenha de mim uma recordação em que entre o rancor. Fiquemos, um perante o outro, como dois conhecidos desde a infância, que se amaram um pouco quando meninos, e, embora na vida adulta sigam outras afeições e outros caminhos, conservam sempre, num escaninho da alma, a memória profunda do seu amor antigo e inútil.
Que isto de «outras afeições» e de «outros caminhos» é consigo, Ophelinha, e não comigo. O meu destino pertence a outra Lei, de cuja existência a Ophelinha nem sabe, e está subordinado cada vez mais à obediência a Mestres que não permitem nem perdoam.
Não é necessário que compreenda isto. Basta que me conserve com carinho na sua lembrança, como eu, inalteravelmente, a conservarei na minha.
Fernando
29/XI/1920

Um mimo...☹ ☺ ㋡ ...!

domingo, 29 de maio de 2016

«I know not what tomorrow will bring »


A última frase escrita de Fernando Pessoa


Morreu no dia seguinte a 30 de Novembro de 1935 com 46 anos vítima de cirrose hepática provocada pelo excesso de álcool ao longo  vida. Nos últimos momentos de vida pede os óculos e clama pelos seus heterônimos.
De seguida escreve  no idioma no qual foi educado, o inglês: “I know not what tomorrow will bring” (“Eu não sei o que o amanhã trará)



Não importa se a estação do ano muda...
Se o século vira, se o milénio é outro.
Se a idade aumenta...
Conserva a vontade de viver,
Não se chega a parte alguma sem ela.


  ♥*¨*•. Fernando Pessoa *¨*•.¸¸♥

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Estrela Dalva e Pessoa


 DE ALVARO DE CAMPOS A FERNANDO PESSOA


                Depois de ler o seu drama estático «O Marinheiro» em «Orpheu I»
Depois de doze minutos
Do seu drama O Marinheiro,
Em que os mais ágeis e astutos
Se sentem com sono e brutos,
E de sentido nem cheiro,
Diz uma das veladoras
Com langorosa magia:
                De eterno e belo há apenas o sono.
                Porque estamos nós falando ainda?
Ora isso mesmo é que eu ia
Perguntar a essas senhoras...

sábado, 5 de dezembro de 2015

Como nuvens pelo céu


Como nuvens pelo céu
 Passam os sonhos por mim.


Nenhum dos sonhos é meu Embora eu os sonhe assim.
São coisas no alto que são
Enquanto a vista as conhece,
Depois são sombras que vão
Pelo campo que arrefece.
Símbolos? Sonhos?
Quem torna Meu coração ao que foi?
Que dor de mim me transtorna?
Que coisa inútil me dói?


Fernando Pessoa

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Crónicas

Trago dentro do meu coração

Como num cofre que se não pode fechar de cheio 

Todos os lugares onde estive,

Todos os portos a que cheguei

Todas as paisagens que vi através de janelas ou vigias,

Ou de tombadilhos, sonhando,

E tudo isso, que é tanto, é pouco para o que eu quero

(Álvaro de Campos)






Poemas inconjuros

  A espantosa realidade das coisas É a minha descoberta de todos os dias Cada coisa é o que é . E é difícil explicar a alguém quanto isso me...