domingo, 28 de janeiro de 2018

Recado

 vermelha:
Não precisas de escrever-me
Que me lembre.


Não precisas de lembrar-me
Que te diga.

Não precisas de dizer-me
Que te peça.


Não precisas de pedir-me
Que te ame.

Só precisas é de amar-me
Sem que eu diga

Nem precise de dizer-te, que te amo!


Lopes Morgado (Areias de Vilar, Barcelos, 23/4/1938)
Sacerdote – Frei da Ordem dos Frades Menores Capuchinhos - , professor, escritor, poeta, jornalista

sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

Cinderela e os sapatos de cristal



A primeira versão francesa do popular conto de fadas, os sapatos  da Gata Borralheira eram  pantoufles em vair  - sapatos em pele de arminho branco .

No século XIV,  a palavra vair ficou fora de moda e o autor francês Charles Perrault (1628-1703) que reescreveu a história em 1697 e não conhecia o vocabulário, confundiu a palavra com verre, vidro.
Como a versão ocidental da história deriva do conto de Perrault. o sapatinho de cristal continuou a ser utilizado nas versões seguintes.
A história da Cinderela tem raízes em contos tradicionais  cuja origem é obscura;
 nas versões que existem em número superior a 300 o sapatinho aparece invariavelmente feito de algum material raro ou dispendioso - ouro ou prata, incrustrados com jóias ou pérolas

Conto popular conhecido em todo o mundo tem a sua versão mais antiga escrita em chinês e datada do século lX
... quem diria!!


sábado, 23 de dezembro de 2017

O Pai Natal da dispensa

O Pai Natal está de costas viradas para a janela.
Usa óculos de aros redondos, vê mal, coitado, sobretudo agora pelo Natal.

O mundo fica tão escuro aqui, os dias curtos, as noites tão longas.
Com a vista assim, cansada, quase fria como o olhar de uma ave perdida no meio do Inverno, pouco ou  quase nada se pode esperar dele.

Olha para mim e não me vê. Estou sentado diante   dele, quieto atento à  sua imobilidade ancestral
Ele é a única presença que ilumina esta sala cheia de livros.
As suas barbas imensas caídas sobre o velho casaco, dão-lhe um ar de ancião triste e desolado.

Há anos que trás às costas um saco cheio de prendas.

Habitava  a casa na outra vida que tive . Os meninos eram pequenos  corriam para os seus braços tensos com a alegria que só a inocência proporciona.

Tirei ontem o Pai Natal da despensa .
Esteve lá escondido todo o ano à espera de Dezembro.
Apanhou-me desprevenido, o tempo correu tão depressa!
Ainda há dias eu era da idade dos meus filhos quando eram pequenos.
De repente a casa não é a mesma, eu sou a minha família pelo Natal.

Os amigos espalham cartazes pelo Facebook.
O tempo e o silêncio esmagam a memória das coisas, deixam cair por terra as suas vozes.
O olhar sem vida do Pai Natal cruza a sala.

Não sei como atravessar esse lago aberto na escuridão, essa fenda entre mim, e o vazio.


Eduardo Bettencourt Pinto


segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

História antiga

Era uma vez, lá na Judeia, um rei
Feio bicho, de resto:
uma cara de burro sem cabresto
e duas grandes tranças.
A gente olhava, reparava, e via
que naquela figura não havia
olhos de quem gosta de crianças

E, na verdade, assim acontecia.
Porque um dia,
o malvado,
só por ter o poder de quem é rei
por não ter coração,
sem mais nem menos
mandou matar quantos eram pequenos
nas cidades e aldeias da nação.

Mas,
por acaso ou milagre, aconteceu
que, num burrinho, pela areia fora,
fugiu
daquelas mãos de sangue um pequenino
que o vivo sol da vida acarinhou:
e bastou
esse palmo de sonho
para encher este Mundo de alegria:
para crescer, ser Deus:
e meter nos infernos o tal das tranças,
só porque ele não gostava de crianças.

Miguel Torga
1907-1995
Escritor português com mais de cinquenta obras publicadas

sábado, 16 de dezembro de 2017

O milagre das Rosas

Era uma tarde
 De vento agreste e de inclementes chuvas.
À porta do palácio, a multidão
De aleijadinhos, orfãos e viúvas,
Mal coberta de andrajos, a tremer,
Pedia pão...

«Que havia de, entretanto acontecer?
Vinha Isabel com uma abada de ouro,
Um deslumbrante e autêntico tesouro,
E ia já dá-lo aos pobrezinhos, quando
 El-Rei lhe tolhe o passo...
- Que trazeis vós senhora  no regaço? -
Pergunta D. Dinis. Ela corando,
responde-lhe - São rosas meu senhor...
- Rosas no Inverno ? Não será engano? ...
- É que estas rosas são de todo o ano -
Diz a raínha então
- São rosas de piedade e de perdão ,
Rosas de luz
Rosas de amor,
Duma roseira que plantou Jesus ...-
E desdobrando o seu brial de seda,
mostrou-lhas a sorrir ...

Cada moeda
Se transformara por milagre em flor ...
E frescas, orvalhadas e viçosas,
aos pés de el-rei cai um montão de rosas...

Pelo ar derramou-se um tal aroma
Tão doce e tão fragrante,
Como se alguém tivera nesse instante
Quebrado uma redoma
de bálsamos celestes...

Cândido Guerreiro  (século XIX XX )
Escritor português nascido em 1871 em Alte no Algarve e faleceu em 1953

Imagem da Raínha Santa- Capela Nossa Senhora dos Anjos Dos Padres Franciscanos
Rua dos Bragas -Cedofeita Porto

terça-feira, 12 de dezembro de 2017

Os cães velam por mim



Não sai medo da boca dos cães, nem fúria
nem ponta de rancor.
Somente um uivo, um estertor.
Pediam tão pouco; um osso, um resto de carne,
um fingimento de ternura, e nada tiveram,
e nada conquistaram.

Somente o desprezo e a fome,
e a vizinhança ardente de morte, numa berma da estrada,
enquanto seguiam o rasto dos cegos
demandando a promessa de luz das catedrais.

Os cães não sabem nem querem vingar-se
Depressa trocam os sinais de cólera
 pela promessa de um afago
e depois rebolam-se na erva como se voltassem
à infância amamentada na sombra dos quintais.

Eu amo os cães e também os gatos,
e só dos homens desconfio e me defendo
por serem os únicos que sonham, olhando o céu
sem nunca deixarem de enterrar no lodo
as raízes mais mesquinhas da ilusão
de poderem ser deuses.

Vêm os cães e põem em em fuga os vultos arqueados
dos que cercam a casa. Sem dó.
Não se pode morder nem matar o que é imaterial.
Os cães, mesmo os de pedra, velam por mim
enquanto eu invento os nomes que hei-de dar
aos temores que me invadem a escrita.

José Jorge Letria
Prosa
(Coração sem abrigo)





quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

Árvore de Natal


Uma das primeiras pessoas a ter em casa no Natal, uma árvore iluminada com velas foi o reformador protestante Martinho Lutero, pelo ano de 1500...!
E provavelmente como função principal a de encher  a casa de luz.

Mas o culto da árvore tem raízes muito mais profundas na história alemã.
 (Para os alemães, independentemente da religiosidade de cada um, a árvore de Natal é um símbolo de paz, tranqüilidade e introspecção.)
 No paganismo  as árvores eram consideradas simbolos da fertilidade, pois as suas folhas rebentavam, após o Inverno, facto provávelmente, em função da qual a árvore se converteu num símbolo da celebração do nascimento de Cristo.


E possívelmente  a  escolha recaiu sobre o abeto e o pinheiro, porque estas árvore se encontram sempre verdes e devido também à sua forma que lembram os  campanários.
... E assim chegamos aos nossos dias, e a árvore de Natal descartado o abeto e para bem do pinheirinho, se pode adquirir em qualquer loja, de matéria plástica e  dura uma vida inteira..☺ ㋡

* No entanto ainda se pode ver por aí e passada a época natalícia,  pequenas arvores (pinherinhos) em formação,  no lixo...!
E porque é Natal
Ouçam o grito...E FELIZ NATAL...!

.. ❀*•.¸¸♥





Poemas inconjuros

  A espantosa realidade das coisas É a minha descoberta de todos os dias Cada coisa é o que é . E é difícil explicar a alguém quanto isso me...