Era uma vez, lá na Judeia, um rei
Feio bicho, de resto:
uma cara de burro sem cabresto
e duas grandes tranças.
A gente olhava, reparava, e via
que naquela figura não havia
olhos de quem gosta de crianças
E, na verdade, assim acontecia.
Porque um dia,
o malvado,
só por ter o poder de quem é rei
por não ter coração,
sem mais nem menos
mandou matar quantos eram pequenos
nas cidades e aldeias da nação.
Mas,
por acaso ou milagre, aconteceu
que, num burrinho, pela areia fora,
fugiu
daquelas mãos de sangue um pequenino
que o vivo sol da vida acarinhou:
e bastou
esse palmo de sonho
para encher este Mundo de alegria:
para crescer, ser Deus:
e meter nos infernos o tal das tranças,
só porque ele não gostava de crianças.
Miguel Torga
1907-1995
Escritor português com mais de cinquenta obras publicadas
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