domingo, 25 de dezembro de 2016

O meu Pai Natal angolano


sábado, 17 de dezembro de 2016

Presépio

Dos teus vários brinquedos de criança,
muitos dos quais te dava o Deus-Menino,
há um que mais perdura na lembrança:
o presépio que armaste em pequenino .


A igreja de cartão que tu fizeste,
onde um par de bonecos se casou!
E o desgosto profundo que tiveste
Quando o padre de barro se quebrou!


Um galo empoleirado sobre um sino,
de bico muito aberto de contente,
cantava anunciando que o Menino
sobre s palhas nascera humildemente .


Mais além, era um rancho que folgava,
com guitarras pandeiros e violas,
tendo à frente uma preta que dançava
brandindo com salero, as castanholas


E lavadeiras, frescas e formosas,
entoavam canções ao desafio;
e, arregaçando as saias vaporosas,
lavavam debruçadas sobre o rio.


Junto à fonte, sorrindo em seus afagos,
namorados juravam seus amores.
E, descendo a colina, os três Reis Magos
caminhavam à frente duns pastores.


Ao pé da gruta onde Jesus dormia,
um soldado de chumbo, prazenteiro,
com a sua espingarda o protegia
de qualquer inimigo traiçoeiro.


Eram estes bonecos tentadores
que te encantavam num ingénuo afã,
entre velas brilhantes de mil cores,
que se apagavam, só com a manhã.


Foi como se apagou a minha luz,
lançando sobre mim, um negro véu,
naquela madrugada em que Jesus
te arrebatou consigo para o Céu.


Bonecos de expressão entristecidos,
tendes segredos que só eu desvendo
E há vozes no ar gritando, indefinidas,
que dizem coisas que só eu entendo.


E destas rosas de papel, agora
que o tempo as desbotou sem piedade,
o mais vivo perfume se evapora:
- É vivo o perfume da saudade.


*Poesia escrita após a morte de um filho


ESPÍNOLA DE MENDONÇA  (do seu livro Gerãnios )


Francisco Espínola de Mendonça nasceu em Ponta Delgada em 1891 e faleceu  na mesma cidade em 1944

sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Num álbum

Eu olhos sei de uns,
que desde que os vi,
não vi mais nenhuns!

Vê tu por aí
se os achas; senão,
descubro-os a ti.

Que lindos que são !
Que modo de olhar!
Que terna expressão!

Já tenho pesar,
de os ver, porque enfim...
Que posso esperar...?

Ver fitos em mim
tais olhos...jamais
por certo; e assim,

suspiros e ais
é quanto terei,
de ver olhos tais!

Só vendo-os se crê
na graça, na cor.
No fluido, ou não sei.

Que doce esplendor...
Tão doce, que eu
não posso supôr
que exista outro céu

João de Deus
 «Campo de Flores»



quinta-feira, 24 de novembro de 2016

O primeiro cartão de Boas Festas

O primeiro cartão de Boas Festas foi desenhado por J. C. Horley  em 1843. (USA)
O uso de cartões de Boas Festas divulgou-se quando os  serviços postais (também eles novidade)  tornaram possível o envio.

quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Descobrimentos


Saudavam com alvoroço as coisas
Novas
O mundo parecia criado nessa mesma
Manhã...1

Sophia de Mello Breyner Andresen,

segunda-feira, 21 de novembro de 2016

O rio Zenza o jacaré e o sengue




O rio Zenza, que, não sendo dos maiores rios de Angola, tem contudo um curso superior a duzentos e cinquenta kilómetros, e sómente a nas alturas do posto de Castendo é que se chama Zenza: até aí tem o nome de rio Bengo.

Habitado em quase  todo o seu curso, pela terrível praga de jacarés, que infestam as suas águas, torna-se perigosissima a sua vadeação em quase todos os «matábu», ou portos que os habitantes utilizam na sua passagem.
É frequente o encontro com estes perigosos bichos, ao passar nas suas margens em cujos areais costumam as fêmeas  pôr dez doze e até quinze ovos bracos maiores que de perua e que tanto o macho como a fêmea vigiam atentamente revezando.se nessa vigilância. Desta aturada e cuidadosa vigilância é que nasceu a crendice , ainda arreigada em muitos povos, de que os jacarés chocam os ovos, com a vista.
Ao pressentirem, no choco, a aproximação de qualquer animal, retesam as patas dianteiras, levantando a cabeça, e esperam para a defesa dos seus ovos  E se alguém se aproxima é derrubado a vergastadas da cauda , dadas tão violentamente, que nenhum homem, por valente que seja, é capaz de se aguentar de pé, com tão poderosa chicotada.
Neste ataque, o jacaré, procura sempre atrair a presa ou o inimigo para perto da água; e, logo que o consegue, faz o possível por aplicar a vergastada para o lado do rio, que é o seu elemento e o único campo onde pode lutar com o mais poderoso animal .
Em terra, é fácil a gente livrar-se dos seus ataques. Com um pouco de sangue frio e a vista bem atenta., o jacaré nunca logra vencer um  homem em terra.
Os indigenas costumam roubar-lhe os ovos, de forma curiosa. Logo que descobrem onde o jacaré colocou a postura, dirigem-se para lá, usando de precaução, e levando um cabrito preso a uma corda..
O cabrito começa a berrar:e, enquanto um preto o sustém pela corda, como isco, para atrair a atenção e o apetite do réptil. vai o outro sorrateiramente rastejando proceder à colheita dos ovos , se vê que eles ainda estão capazes.

Como tudo o que existe no mundo, também o jacaré tem um inimigo de respeito, vivendo com ele no mesmo rio, e do qual nunca consegue livrar-se; É o sengue. O sengue é, como o jacaré um grande lagarto, atingindo por vezes o comprimento de um metro e meio, mas não tem mais grossura que um braço de homem . Sendo quase tão comprido como o jacaré,não é mais grosso que uma das suas pernas. É por isso mesmo, mais ágil e tem os dedos providos de unhas córneas, rijas, de oito a dez centímetros. e dentes afiadíssimos. Dispõe de uma prodigiosa força mandibular . Odeia o jacaré e persegue-o com uma sanha feroz mostrando por ele um ódio surdo, como costumam sentir os fracos pelos fortes.
Assim que avista o jacaré, lança-se em sua perseguição, furtando-se hábil, e ligeiramente aos seus ataques e logo que pode tenta passar-lhe sob o ventre, fila-o fila-o e crava-lhe nos sovacos as suas potentes e aceradas unhas, obrigando-o a sangrar, sem que o jacaré lhe possa fazer qualquer dano.
O jacaré vai perdendo sangue, e, com ele, vão-lhe fugindo, as forças.
Depois de três horas de luta, resta um cadáver de jacaré a boiar na água e um sengue, oculto num recôncavo da margem , prostrado pelo cansaço.


F. SANTOS SERRA FRAZÃO (Cinco anos em Angola 1952)




        (retirado do meu livro de leitura do 1º. ano do ensino  liceal  1952

O "doutor da selva"




Há pouco menos de um século, a cerrada selva do Gabão foi cenário de uma insólita história de amor.
O seu protagonista, um jovem alsaciano que mais tarde chegaria a ser conhecido mundialmente.

 O seu nome: Abert Schweitzer.

 Filósofo  intelectual, catedrático de teologia, médico e provávelmente, o melhor intérprete das obras de Bach,  um dia decidiu deixar um mundo que lhe prometia tudo e ir para a selva do Gabão, acompanhado pela mulher Elena Brasslau .

Os horrores descritos pelos seus colegas e amigos sobre os deserdados de África, motivaram o casal a viajar até Lambarené, nas margens do rio Ogooué, onde existia uma Missão.

Ali à força de pulso e vontade, Schweitzer ergueu um hospital, para dar ajuda e alívio aos nativos.
Pouco a pouco a fama do hospital de Lambarené  do "doutor da selva" estendeu-se a todo o Gabão, até chegar à Europa e a sua fama apesar da sua humildade estendeu-se a todo o mundo, e o reconhecimento internacional  - onde se incluiu  o Prémio Nobel da Paz - multiplicou-se ano após ano .
Schweitzer tinha  encontrado o seu caminho e um sentido para a sua vida  naquele hospital   que crescia de dia a dia dia, que anos depois da sua morte ainda mantém  a herança do seu espirito altruista.
.
Num continente em que havia  uma enfermeira para três mil habitantes e um número de médicos ainda menor, o  hospital é  uma ilha de esperança para as sua gentes.



Hoje em dia, o Hospital Schweitzer em Lambaréné é um  hospital com  novas e modernas instalações  que vieram dar  relevo, à antiga casa dos Schweitzer e o povoado  um  local de culto e visitado por turistas de todo o mundo, onde é possível visitar o local, tal e qual como o casal o deixou, em homenagem a este grande homem que nas palavras de Einstein foi o «maior do nosso  século»

Os restos mortais de Abert Schweitzer, repousam para sempre na pequena localidade de Lambaréné


Quando o homem aprender a respeitar até o menor ser da criação, seja animal ou vegetal, ninguém precisará ensiná-lo a amar seus semelhantes.



Poemas inconjuros

  A espantosa realidade das coisas É a minha descoberta de todos os dias Cada coisa é o que é . E é difícil explicar a alguém quanto isso me...