segunda-feira, 21 de novembro de 2016

O rio Zenza o jacaré e o sengue




O rio Zenza, que, não sendo dos maiores rios de Angola, tem contudo um curso superior a duzentos e cinquenta kilómetros, e sómente a nas alturas do posto de Castendo é que se chama Zenza: até aí tem o nome de rio Bengo.

Habitado em quase  todo o seu curso, pela terrível praga de jacarés, que infestam as suas águas, torna-se perigosissima a sua vadeação em quase todos os «matábu», ou portos que os habitantes utilizam na sua passagem.
É frequente o encontro com estes perigosos bichos, ao passar nas suas margens em cujos areais costumam as fêmeas  pôr dez doze e até quinze ovos bracos maiores que de perua e que tanto o macho como a fêmea vigiam atentamente revezando.se nessa vigilância. Desta aturada e cuidadosa vigilância é que nasceu a crendice , ainda arreigada em muitos povos, de que os jacarés chocam os ovos, com a vista.
Ao pressentirem, no choco, a aproximação de qualquer animal, retesam as patas dianteiras, levantando a cabeça, e esperam para a defesa dos seus ovos  E se alguém se aproxima é derrubado a vergastadas da cauda , dadas tão violentamente, que nenhum homem, por valente que seja, é capaz de se aguentar de pé, com tão poderosa chicotada.
Neste ataque, o jacaré, procura sempre atrair a presa ou o inimigo para perto da água; e, logo que o consegue, faz o possível por aplicar a vergastada para o lado do rio, que é o seu elemento e o único campo onde pode lutar com o mais poderoso animal .
Em terra, é fácil a gente livrar-se dos seus ataques. Com um pouco de sangue frio e a vista bem atenta., o jacaré nunca logra vencer um  homem em terra.
Os indigenas costumam roubar-lhe os ovos, de forma curiosa. Logo que descobrem onde o jacaré colocou a postura, dirigem-se para lá, usando de precaução, e levando um cabrito preso a uma corda..
O cabrito começa a berrar:e, enquanto um preto o sustém pela corda, como isco, para atrair a atenção e o apetite do réptil. vai o outro sorrateiramente rastejando proceder à colheita dos ovos , se vê que eles ainda estão capazes.

Como tudo o que existe no mundo, também o jacaré tem um inimigo de respeito, vivendo com ele no mesmo rio, e do qual nunca consegue livrar-se; É o sengue. O sengue é, como o jacaré um grande lagarto, atingindo por vezes o comprimento de um metro e meio, mas não tem mais grossura que um braço de homem . Sendo quase tão comprido como o jacaré,não é mais grosso que uma das suas pernas. É por isso mesmo, mais ágil e tem os dedos providos de unhas córneas, rijas, de oito a dez centímetros. e dentes afiadíssimos. Dispõe de uma prodigiosa força mandibular . Odeia o jacaré e persegue-o com uma sanha feroz mostrando por ele um ódio surdo, como costumam sentir os fracos pelos fortes.
Assim que avista o jacaré, lança-se em sua perseguição, furtando-se hábil, e ligeiramente aos seus ataques e logo que pode tenta passar-lhe sob o ventre, fila-o fila-o e crava-lhe nos sovacos as suas potentes e aceradas unhas, obrigando-o a sangrar, sem que o jacaré lhe possa fazer qualquer dano.
O jacaré vai perdendo sangue, e, com ele, vão-lhe fugindo, as forças.
Depois de três horas de luta, resta um cadáver de jacaré a boiar na água e um sengue, oculto num recôncavo da margem , prostrado pelo cansaço.


F. SANTOS SERRA FRAZÃO (Cinco anos em Angola 1952)




        (retirado do meu livro de leitura do 1º. ano do ensino  liceal  1952

O "doutor da selva"




Há pouco menos de um século, a cerrada selva do Gabão foi cenário de uma insólita história de amor.
O seu protagonista, um jovem alsaciano que mais tarde chegaria a ser conhecido mundialmente.

 O seu nome: Abert Schweitzer.

 Filósofo  intelectual, catedrático de teologia, médico e provávelmente, o melhor intérprete das obras de Bach,  um dia decidiu deixar um mundo que lhe prometia tudo e ir para a selva do Gabão, acompanhado pela mulher Elena Brasslau .

Os horrores descritos pelos seus colegas e amigos sobre os deserdados de África, motivaram o casal a viajar até Lambarené, nas margens do rio Ogooué, onde existia uma Missão.

Ali à força de pulso e vontade, Schweitzer ergueu um hospital, para dar ajuda e alívio aos nativos.
Pouco a pouco a fama do hospital de Lambarené  do "doutor da selva" estendeu-se a todo o Gabão, até chegar à Europa e a sua fama apesar da sua humildade estendeu-se a todo o mundo, e o reconhecimento internacional  - onde se incluiu  o Prémio Nobel da Paz - multiplicou-se ano após ano .
Schweitzer tinha  encontrado o seu caminho e um sentido para a sua vida  naquele hospital   que crescia de dia a dia dia, que anos depois da sua morte ainda mantém  a herança do seu espirito altruista.
.
Num continente em que havia  uma enfermeira para três mil habitantes e um número de médicos ainda menor, o  hospital é  uma ilha de esperança para as sua gentes.



Hoje em dia, o Hospital Schweitzer em Lambaréné é um  hospital com  novas e modernas instalações  que vieram dar  relevo, à antiga casa dos Schweitzer e o povoado  um  local de culto e visitado por turistas de todo o mundo, onde é possível visitar o local, tal e qual como o casal o deixou, em homenagem a este grande homem que nas palavras de Einstein foi o «maior do nosso  século»

Os restos mortais de Abert Schweitzer, repousam para sempre na pequena localidade de Lambaréné


Quando o homem aprender a respeitar até o menor ser da criação, seja animal ou vegetal, ninguém precisará ensiná-lo a amar seus semelhantes.



terça-feira, 8 de novembro de 2016

Não sentes no coração ?


- Donzela, vou dar-te a flor
Das flores do meu jardim!
             «Sim?
- Simboliza, diz: Amor;
               Cor
Como a tua, vês? Assim?

Ai, dize,dize-me lá,
É rosa, é cravo essa tal?
            - Qual?
«É amor-perfeito - Será.
             «Ah,
Conheço essa flor tão mal.

- Pois olha, não vês, além
Balouçar débil botão ?
             «Não!
- Aqui, não sentes, vês bem!
              «Quem?
-Não sentes no coração? ...

João de Deus
Campo de Flores

sexta-feira, 4 de novembro de 2016

A uns anos


Dura a vida como a flor;
Mas dura uma eternidade
Passada na ansiedade
Passada no dissabor


Quando a fortuna bafeja
 O frágil baixel da vida,
Nunca parece comprida,
Por mais comprida que seja.


Ora tendo vós a sorte
De ver hoje a vosso lado
O vosso filho adorado,
Vossa adorada consorte,


A natural alegria
Vos faz cair num engano!
Vós não fazeis mais um ano... -
Fazeis mas é - mais um dia.


João de Deus
Campo de Flores

domingo, 30 de outubro de 2016

A véspera do dia de todos os santos






À semelhança do que acontece no Natal e na Páscoa, também os festejos da véspera do Dia de Todos os Santos, têm origem numa celebração pagã, apesar de o seu nome derivar de uma festa da liturgia cristã.

Esta festa introduzida no século VII para comemorar todos os santos e mártires que não eram celebrados em nenhum dia particular, realizava-se no dia 13 de Maio 
 No século VIII porém, o Dia de Todos os Santos, passou a ser celebrado a 1 de Novembro e aboliu a festividade pagã festejada nessa data.

O dia 31 de Outubro, véspera de 1 de Novembro, a última noite do ano no antigo calendário celta, era celebrado como o final do verão e da sua fertilidade. Era um festival que os celtas do norte da Europa celebravam acendendo grandes fogueiras para
auxiliarem o Sol durante o Inverno .



O Inverno que evocava  também a frialdade e a escuridão da sepultura, era a altura em que os fantasmas deambulavam, e os espiritos sobrenaturais, bruxos e feiticeiras realizavam as suas festas.
Só a partir do final do século XVIII  a véspera do Dia de Todos os Santos se transformou, em alguns países, num dia de diversão para as crianças, celebrado com trajes de fantasia, lanternas e jogos.


Anteriormente era considerada como  uma noite de medo, durante a qual os homens sensatos, respeitando os duendes e os demónios errantes, se conservavam em casa.

Nos séculos XVII e XVIII, no entanto, os mascarados,  - pessoas com máscaras misteriosas e trajes de fantasia - andavam habitualmente de casa em casa, cantando e dançando, para afastar o mal, ou como representando os fantasmas e demónios da noite.

Partida ou tratamento

Este hábito sobrevive ainda em muitas partes do mundo como uma mascarada para crianças.
Na América do Norte, estas andam de porta em porta em traje de fantasia num ritual conhecido como trick on treat (partida ou tratamento)

Levam habitualmente um saco ou uma fronha de almofada e ameaçam pregar uma partida aos donos da casa  se não receberem o «tratamento»  na forma de doces ou bolachas .

A lanterna da véspera de Todos os Santos, feita de uma abóbora.menina a que é retirado o miolo, é uma reminiscência dos dias em que eram realizadas  ofertas de alimentos aos espiritos dos mortos.


  
 (ツ)  (ツ)                     



quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Resposta

Em fumo se vai tudo amigo: olhando
Para as nuvens do céu, nuvens daquelas,
E até não sei se diga que mais belas
Anda a gente fazendo e desmanchando

Dá-me uma saudade em me lembrando
Do belo tempo que passei com elas
Por essa imensa abóboda de estrelas.
Por esse mar de fogo, viajando!

Andasse ainda eu lá, que não me havia
De ver por estes charcos atolado,
Onde nem o Sol, nem a Lua, me alumia !

Andasse eu, ainda lá desenganado
Mesmo já como estou de achar um dia
Essa  pátria de onde ando desterrado

João de Deus
Campo de Flores

Honra e proveito

Um dia os Deuses, cada qual uma árvore
À sua guarda consagraram: Júpiter,
Esse o carvalho, a murta Vénus, Hércules,
Lá esse o álamo. e o loureiro Apolo.

Vendo-as Minerva todas infrutíferas:
- Que é isto? (exclama). Júpiter acode-lhe:
«Senão, diriam filha, que as guardávamos
Só pelo fruto. - Que me importa? digam-no:
É pelo fruto, que a oliveira escolho?

Minerva! (brada o pai de homens e deuses)
És quem de todos, sabes mais sem dúvida:
No que não luza,...  mal fundada glória!

Honra sem proveito faz mal ao peito
✬¨*•.


João de Deus Campo de Flores livro l

Poemas inconjuros

  A espantosa realidade das coisas É a minha descoberta de todos os dias Cada coisa é o que é . E é difícil explicar a alguém quanto isso me...