sábado, 25 de julho de 2020

A poesia do octogenário

Quando Victor Hugo escreveu os dezasseis versos que a compõem, tinha perto de oitenta anos.
São talvez esses versos os últimos que brotaram da sua alma .
E contudo, o pensamento, ou melhor o  nostálgico desejo que os inspirou é ainda deliciosamente poético.

Na sua mocidade, na sua maturidade na sua velhice, Victor Hugo - com excepção de poucas abertas e clareiras  - foi o poeta de tudo o que é enorme, terrível, pavoroso, majestoso, da Natureza selvagem e da noite misteriosa.

Mas agora perto da morte, o poeta  desejaria que esse seu mundo solene ruísse e desaparecesse:
bastar-lhe-ia um jardim cheio de frescura, uma rapariguinha toda branca...

Atrás do trágico cenário  dantesco ou de Ésquilo, o octogenário  sonhador de visões de Notre Dame  entrevê a infância  do mundo :
 um jardim e uma mulher, o Éden e Eva antes do pecado.


Mas não sou crítica e certas coisas não as sei dizer . Devo portanto contentar-me com transcrever aqui os suaves versos senis de Victor Hugo.

Si les deserts, si les sable,             
Si les grands bois
Si les choses formidable
Que j'entrevois ,

Etaient, sauvage nature,
 Coupés soudain
Par la gaité toute pure
D'un frais jardin

Sí tout à coupe  mantille
en blanche corset
Une belle jeune fille
Apparaissait,

Si je rencontrais  des roses
Dans les forêts,
Nymphes , ah!  les douces choses
Que je dirais!
                   
 (12 septembre  1880)
                                         
                                                       
                                                            Victor Hugo 1802-1885


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