domingo, 30 de outubro de 2022

***

 

Leve, breve, suave 

Um canto de ave 

Sobe no ar com que principia 

O dia.

Escuto, e passou...

Parece que foi só porque escutei 

Que parou.

Nunca, nunca, em nada,

Raie a madrugada,

Ou splenda o dia, ou doire no declive 

Tive

Prazer a durar 

Mais do que o nada, a perda, antes de eu o ir 

Gozar.

terça-feira, 9 de agosto de 2022

Angola


 
Pensei tantas vezes em acabar a minha vida lá. Curioso este fascinio  que tenho por Angola, porque dela conheci mais a parte má: a guerra, a morte, a solidão. 
A minha  filha que nasceu e eu longe. 
Tudo isso devia levar-me a não gostar de Angola e, no entanto, nunca vi nada tão bonito.
As estrelas eram diferentes, e os horizontes tão largos 

Uma coisa muito importante para mim: fiz uma filha em Malange.

 Gostava de ter nacionalidade angolana. Se me fosse dada aceitava-a imediatamente
                                                                   
                                                 -`ღ´-
                                                    Extratos de uma entrevista dada a Maria Augusta Silva

domingo, 24 de abril de 2022

O esplendor de Portugal




21 de Junho de 1982

Compreendi que a casa estava morta, quando os mortos  principiaram a morrer. 

O meu filho Carlos, em criança  julgava que o relógio da parede era o coração do mundo e tive vontade de sorrir por saber há muito que o coração do mundo, o verdadeiro coração do mundo não estava ali connosco mas além do pátio e do bosque de sequóias, no cemitério onde no tempo  do meu pai  enterravam lado a lado os pretos e os brancos do mesmo modo que antes do meu pai, na época do primeiro dono do girassol e do algodão sepultaram os brancos que passeavam a cavalo e davam ordens e os pretos que trabalharam as lavras neste século e no anterior e no anterior ainda, um rectângulo vedado por muros de cal, o portão aberto à nossa espera com um crucifixo em cima, lousas e lousas sem nenhuma ordem nem datas nem relevos nem nomes no meio do capim, salgueiros que não cresciam, ciprestes secos, um plinto para as despedidas em que os gatos do mato dormiam, enfurecendo-se para nós a proibir-nos a entrada .

O autêntico coração da casa eram as ervas sobre as campas  ao fim da tarde ou no princípio da noite, dizendo palavras que eu entendia mal por medo de entender, não o vento, não as folhas, vozes que contavam uma história sem sentido de gente e bicho e e assassínios e guerra como se segredassem sem parar a nossa culpa, nos acusassem, repetindo mentiras, que a minha família e a família antes da minha  tinham chegado como salteadores  e destruído África, o meu pai aconselhava

-  Não ouças !!!

segunda-feira, 14 de junho de 2021

A resposta na ponta da língua


Há cerca de dois mil anos um homem chamado Fócion esperava pacientemente na barbearia para ser atendido, enquanto o barbeiro comentava a situação política actual de Atenas. A tarde estava calma os clientes não eram muitos e a conversa arrastava-se.
Quando chegou a vez de Fócion, o barbeiro perguntou:
- E como quer o senhor que lhe apare o cabelo?

- Em silêncio - respondeu Fócion

 Esta observação de Fócion (Fócion foi um político importante em Atenas no ano 376 aC) é um dos primeiros exemplos de réplica que se conhecem, o protótipo da resposta esmagadora e que provocam em quem ouve um sentimento de invejosa admiração .

Muitas vezes perguntamo-nos porque é que em certas ocasiões não nos sai uma resposta certeira, para certas perguntas com que somos confrontados, e pensamos: Porque não me lembrei desta resposta... (?) Muitos de nós, somos mestres nesta arte.. depois que a oportunidade passou, e a resposta exata vem-nos à cabeça brilhante, espirituosa, soberba. Então porque não a damos no momento oportuno?


 Poucos naturalmente atingirão o nível dos grandes mestres. Voltaire foi um deles.

Um dia referia-se a alguém em termos elogiosos quando um amigo comentou:

- É muito gentil da sua parte falar tão bem dele, principalmente tendo em conta que ele diz sempre coisas tão desagradáveis a seu respeito.
 Voltaire suavemente replicou:

É possível que nós os dois estejamos enganados...



A resposta pronta baseia-se em algumas virtudes fundamentais . Deve parecer a quem ouve engraçada,mas sobretudo, inesperada e de fácil compreensão.


 A famosa réplica de Wistler (pintor norte americano) é mais um exemplo.Wistler teria dito algo interessante a que Oscar Wilde conhecido pelo seu hábito de plagiar ditos alheios exclamou:


- Eu gostaria de ter dito isso.
- Você dirá Oscar, - observou Wistler tranquilamente - Você dirá.


(Wistler era conhecido pelo seu espirito aguçado especialmente em conversas com o seu amigo
 Oscar Wilde. Ambos eram figuras da sociedade parisiense em finais do seculo XIX .
Quando Oscar Wilde foi publicamente reconhecido como homossexual, Wistler acabou com a amizade entre ambos




 Finalmente o modo como se diz também é importante .Nada pode ser mais nocivo para uma observação inteligente do que acompanhada de um riso ruidoso do autor, ou uma expressão de malícia. Como todas as armas de ataque no entanto, deve ser utilizada com cuidado para que não venha a ferir a pessoa que a diz...!

A pedra filosofal

Na teoria alquimista a Pedra Filosofal era a substância do qual derivavam todos os metais e consequentemente poderia ser usada para transformar o chumbo ou qualquer outro metal, em ouro.


Muitos alquimistas dedicaram a vida à procura de exemplos físicos da substância, mas quando isso se provou ser ilusório surgiu a teoria de que a substância era não-material, talvez até espiritual na essência, e que só podia ser reconhecida por iniciados. A alquimia árabe, uma forma avançada deste conhecimento. pode de facto ter descoberto a pedra não-material na forma de electricidade, como sugere a descoberta no Iraque em 1936 de artefactos mais tarde identificados como cerâmica além de baterias de cobre datando no período (248 a.C.- 226 d.C.)



Experiências feitas nos Estados Unidos, utilizando reconstruções das baterias, mostraram que cada uma deles era capaz de produzir uma corrente electrica de 0,5 durante 18 dias com possibilidade de uma maior voltagem, se as baterias fossem ligadas em série. Era mais do que suficiente para a prática da galvanoplastia que deve ter estado na base de histórias de velhos alquimistas, transformando metais sem valor, em réplicas fiéis de ouro e prata.alegria:



sábado, 10 de abril de 2021

Invisível

 


Distraída, de fugida,  espreitei e continuei. 

De repente, estaquei . (...)

 dois passos atrás,

 oh!!!

Impossível...  !

Anos a fio invisível...!


quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

Sabes quem eu sou? Eu não sei .



Sabes quem eu sou? Eu não sei.
Outrora, onde o nada foi
Fui o vassalo e o rei,
É dupla a dor que me dói.
Duas dores eu passei.


 Fui tudo o que pode haver
Ninguém me quis esmolar;
E entre o pensar e o ser
Senti a vida passar
Como um rio sem correr

Fernando Pessoa
Poesias inéditas
(1930-1935) 1955

          « Estrangeiro aqui e em toda a parte»

Pessoa viveu como o Marinheiro do seu drama simbolista, por conta de um futuro que ainda não existe . É a leitura dos seus poemas quem o faz  adivinhar e apetecer . Há meio século isso era mais sensível para quem o descobria, e nele se descobria do que hoje, em que se tornou o lugar comum da cultura portuguesa e um ícone incontestável da cultura universal . O que ele desejou a vida inteira foi estar nu, nu culturalmente como ninguém  antes dele o estivera, pois não havia verdade ou verdades que pudessem ou tivessem o condão de o vestir.

Na ordem aparente da vida, o seu sonho fracassou inteiramente .
 Ninguém suportou a sua nudêz.

Todos nos consertámos para lhe oferecer a pátria que não teve, não queria e não podia ter.
Pessoa clamou isso em todos os tons, do fundo do poço com vista virtual para um céu que não o podia ouvir.
 Tem hoje a superpátria, que nem mesmo nos seus sonhos mais vertiginosos não se atrevera a imaginar. . Nunca esteve mais só, que no seu trono de pura glória. E já ninguém o pode devolver à sua solidão original, tão rente à alma de onde surgiam, como do caos mesmo os poemas onde ele era o absoluto estrangeiro de si mesmo,

 LuzB
                           

Poemas inconjuros

  A espantosa realidade das coisas É a minha descoberta de todos os dias Cada coisa é o que é . E é difícil explicar a alguém quanto isso me...