quarta-feira, 18 de outubro de 2017

A língua Portuguesa


A língua portuguesa é branda para deleitar, grave para engrandecer, eficaz para mover, doce para pronunciar, breve para resolver e acomodada às matérias mais importantes da prática e escritura.

Para falar, é engraçada com um modo senhoril; para cantar, é suave com um certo sentimento que favorece a música: para pregar é substanciosa   com uma gravidade que autoriza as razões e as sentenças; para escrever cartas, nem tem infinita cópia que dane nem brevidade estéril que a limite; para histórias, nem é tão florida que se derrame, nem tão seca que busque o favor das alheias.

Escreve-se da maneira que se lê, e assim se fala.
Tem de todas as línguas o melhor: a pronunciação latina, a origem da grega, a familiaridade da castelhana, a brandura da francesa, a elegância da italiana. Tem mais adágios e sentenças que todas as vulgares, em fé da sua antiguidade. E se à língua hebreia  pela honestidade das palavras chamaram santa, certo que não sei eu outra que tanto fuja de palavras claras em matéria descomposta quanto a nossa.

E para que se diga tudo, só um mal tem, e é que pelo pouco que lhe querem seus naturais, a trazem mais remendada que capa de pedinte

Francisco Rodrigues Lobo
(sécs XVl- XVll)

Francisco Rodrigues Lobo (1575-1621) nasceu na zona de Leiria
Frequentou a Universidade de Coimbra onde se licenciou em Leis
É considerado um dos mais importantes discípulos de Camões
*
Floresça, fale, cante, oiça-se e viva
A portuguesa língua, e já, onde for,
Senhora, vá de si, soberba e altiva.
          
António Ferreira (século XVl)
Poemas Lusitanos

*

O mau Português principia a sê-lo, desde que mareia a pureza da sua língua

Camilo Castelo Branco  (século XlX)
A queda de um anjo


Retirado do Livro de Leitura  a «Terra e a Grei»  1956
 para 1ª ano liceal





sábado, 7 de outubro de 2017

Ode aos animais sofredores


Sobre a pedra friável, à luz do meio dia

vi uma lagartixa .
Da minha passada rangente não fugia,
embora outrora pedrinhas e areia a deslizar
e o mais leve dos sopros a
conseguiam espantar.
Debruçado sobre este ser, vi que o corpinho luzente
murchava a olhos vistos.
Virava a cinzento
seu brilho de esmeralda.
 A língua febril implorava
e revelava fraqueza, tortura,
vida que a abandonava
Pensativo me fui, e chegado ao meu portal
encontrei um gatinho, fantasma no umbral,
gemendo a sua miséria, este lixo peçonhento
pedia morte imediata pedindo fim ao seu tormento

Virei ainda a face, mas meu espírito entorpecido
deixou de sentir o júbilo quente do dia.
Enegrecido
o mar requebrava.
 Em volta bramava o mundo criado,
depósito imundo de tanto sofrimento passado e angustiado .

Jurei então que jamais vos olvidaria
ínfimos bichos cujo destino me afligia.
Quando um dia  minha alma já memória indolor ,
a ambos nos levará, junto do Criador.


Franz Werfel  foi um zoólogo e explorador austríaco  especializado em Herpetologia e Entomologia
Nasceu em 1867 e faleceu em 1939
Defensor acérrimo da vida Werfel chegou a afirmar e muito acertadamente que existe uma ligação directa entre a fé na imortalidade e a compaixão universal para com todos os seres vivos.

sábado, 9 de setembro de 2017

Quadras ao Gosto Popular.

As gaivotas, são tantas. tantas

As gaivotas, são tantas. tantas
Voam no rio pró mar ...
Também sem querer encantas.
Nem é preciso voar.

terça-feira, 8 de agosto de 2017

Wakaba Mutheki - "O Africano Van Gogh"

Segundo uma lenda árabe, «o Diabo desenterrou o embondeiro, enfiou os ramos na Terra e deixou as raízes no ar». E assim vai o mundo... de raízes para o ar!!!



"Tendo eu vivido num abrigo em Joanesburgo, que sobrevive da venda de garrafas de Coca-Cola vazias, experimentei e aprendi a entender a pobreza e o lado mais duro da vida. Essas experiências ensinaram-me a valorizar a vida e inspiraram-me a recriar esta paixão através da arte.
"Wakaba Mutheki




Foi descoberto num abrigo de indigentes em Joanesburgo. Em 10 anos tornou-se um sucesso internacional. Wakaba foi apelidado de "O Africano Van Gogh" pelos meios de comunicação de todo o mundo

  Pintura de : Wakaba Mutheki


http://www.sembachart.com/wakaba-mutheki-paintings-sa.htm


sexta-feira, 28 de julho de 2017

Elementos


De todos os cantos do mundo
Amo com um amor mais forte e mais profundo
Aquela praia extasiada e nua
Onde me uni ao mar ao vento e à lua.


Sophia de Mello Breyner Andresen


sábado, 22 de julho de 2017

Rememoração

Casa

Permanece presente como um reino
E atravessa meus sonhos como um rio

Sophia de Mello Breyner Andresen
Fotografias : Casa Andresen


sexta-feira, 21 de julho de 2017

Horas vazias

Cada dia é mais evidente que partimos
Sem nenhum possível regresso no que fomos,
Cada dia as horas se despem mais do alimento
Não há saudades, nem terror que baste

Sophia de Mello Breyner Andresen

Poemas inconjuros

  A espantosa realidade das coisas É a minha descoberta de todos os dias Cada coisa é o que é . E é difícil explicar a alguém quanto isso me...