sexta-feira, 21 de julho de 2017

Horas vazias

Cada dia é mais evidente que partimos
Sem nenhum possível regresso no que fomos,
Cada dia as horas se despem mais do alimento
Não há saudades, nem terror que baste

Sophia de Mello Breyner Andresen

quarta-feira, 19 de julho de 2017

Prince Charmant ...


No lânguido amanhecer das amorosas
Tardes que morrem voluptuosamente
Procurei-O no meio de toda a gente .
Procurei-O em horas silenciosas!

Ó noites da minh'alma tenebrosas!
Boca sangrando beijos, flor que sente ...
Olhos postos num sonho, humildemente ...
Mãos cheias de violetas e de rosas...

E nunca O encontrei... Prince Charmant...
Como audaz cavaleiro em velhas lendas
Virá, talvez nas névoas da manhã!

Em toda a nossa vida anda a quimera
Tecendo em frágeis dedos frágeis rendas...
- Nunca se encontra Aquele que se espera !...

Florbela Espanca
Florbela de Alma Conceição Espanca, nasceu  em Vila Viçosa em 1894 e faleceu em Matosinhos em 1930
Mulher bem portuguesa, com suas virtudes e defeitos poetisa artista de soneto Florbela foi sobretudo uma alma aberta e sincera. uma sombra errante consciente dos próprios defeitos e ser capaz de os confessar publicamente.

terça-feira, 18 de julho de 2017

Conto de fadas

Eu trago-te nas mãos o esquecimento
Das horas más que tens vivido  Amor!
E para as tuas chagas o unguento
Com que sarei a minha própria dor.

Os meus gestos são ondas de Sorrento...
Trago no nome as letras de uma flor...
Foi dos meus olhos garços que um pintor
Tirou a luz para pintar o vento...

Dou-te o que tenho, o astro que dormita,
O manto dos crepúsculos da tarde
O sol que é  de oiro, a onda que palpita.

Dou-te, comigo, o mundo que Deus fez!
- Eu sou Aquela de quem tens saudade,
A princesa do conto : «Era uma vez...»

Florbela Espanca

segunda-feira, 17 de julho de 2017

Mar sonoro

Mar sonoro, mar sem fundo, mar sem fim.
A tua beleza aumenta quando estamos sós
E tão fundo intimamente a tua voz
Segue o mais secreto bailar do meu sonho
Que momentos há  em que eu suponho
Seres um milagre criado só para mim.

Sophia de Mello Breyner Andresen
Imagem: Praia Homem do Leme - Foz do Douro
Porto

sábado, 15 de julho de 2017

No tempo dividido

Obra poética

Espero

Espero sempre por ti, o dia inteiro
Quando na praia sobe, de cinza e oiro,
o nevoeiro
E há em todas as coisas o agoiro
De uma fantástica vinda.

Sophia de Mello Breiner Andresen

sexta-feira, 14 de julho de 2017

As rosas

Quando à noite desfolho e trinco as rosas
É como se prendesse entre os  meus dentes
Todo o luar das noites transparentes
Todo o fulgor das tardes luminosas
O vento bailador das Primaveras
A doçura amarga dos poentes
E a exaltação de todas as esperas!

Poemas inconjuros

  A espantosa realidade das coisas É a minha descoberta de todos os dias Cada coisa é o que é . E é difícil explicar a alguém quanto isso me...