domingo, 16 de abril de 2017

O Rei Pescador e o Graal







Embora o Santo Graal esteja identificado como a taça usada por Jesus Cristo  na Última Ceia  há indicações claras que os mitos e lendas  que rodeiam o vaso místico são substancialmente mais antigas   que o advento do próprio Cristo.


Basicamente a lenda do Graal fala-nos de um cavaleiro que viaja por uma região deserta até que encontra um castelo magnífico mas sinistro. Ao entrar no edifício depara com o seu proprietário o misterioso Rex Piscator ou o « Rei  Pescador», um monarca  aleijado e ferido que o convida para um sumptuoso banquete.


O Cálice da Última Ceia é guardado num castelo cujo rei sofre, continuamente, por causa de seus ferimentos. Suas feridas nunca cicatrizam e o fazem sofrer constantemente. O Rei Pescador habita o castelo que guarda o Graal, porém não pode tocá-lo e, nem ser curado por ele.:

O cavaleiro aceita e durante o festim vê serem trazidos em procissão uma espada mágica, uma lança manchada de sangue  e, finalmente o Graal.


O cavaleiro é então desafiado a fazer uma pergunta. Se fizer a pergunta certa, o Rei Pescador fica curado  e a fertilidade é restituída à terra deserta . Caso contrário continuam as calamidades.


Várias formas desta história  estão incorporadas no ciclo de mitos da lenda arturiana e são relatadas pelos mais antigos e (mesmo alguns modernos) historiadores que acreditam que o Santo Graal foi levado da Palestina para a Inglaterra por José de Arimateia  e escondido em  Glastonbury, ou nas proximidades.





Mas existe uma oposição nisto que é o Graal do Rei Pescador nem sempre ser descrito como uma taça .

Aparece algumas vezes como um prato, um cibório, uma pedra ou mesmo um caldeirão.


A análise moderna da história sugere laços  não com a Última Ceia mas com a mitologia celta pré-cristã que nos fala de muitos acontecimentos semelhantes e de vasos também similares alguns dos quais conferiam imortalidade ou ressuscitavam os mortos.

O Rei Pescador é equacionado não com Cristo (que disse aos discípulos que os ia transformar em “ pescadores de homens”) mas com Bran o «Abençoado » que aparece no Mabinogion. (**)



Os eruditos acreditam que o mito reflete a crença muito antiga de que a fertilidade de uma terra depende da força do comportamento e em particular da poteência sexual do seu senhor  Várias versões da lenda indicam que os ferimentos do Rei Pescador eram nos órgãos genitais.


Seja qual for a origem da lenda , há poucas dúvidas de que a importãncia real do Santo Graal é o seu poder mítico, o que quer dizer a sua capacidade de fascinar a mente humana, e como um caminho do trabalho destinado a levar à iluminação.



(*)Bran, o Abençoado (Bran The Blessed).


Bran é um dos sobreviventes de um grande combate entre ingleses e irlandeses no qual os nativos de Eire usam soldados mortos que, depois de jogados em um caldeirão mágico, se transformavam em guerreiros mortos-vivos. Bran é morto, porém a sua cabeça cortada continua viva, falando e banqueteando-se com os companheiros em uma bandeja de prata.
The Mabinogion (Welsh Book); Translated by Gwyn & Thomas Jones; Illustrated by Alan Lee:


(**) MABINOGION é uma colecção rara de 11 contos medievais escritos em galês no século XI e contém uma profusão de elementos tirados dos mitos pré-cristãos, da Inglaterra celta. Os contos, que ainda hoje mantêm o seu fascínio, contêm alguns dos mais antigos materiais relacionados com a Lenda Arturiana que chegaram aos nossos tempos.



quinta-feira, 13 de abril de 2017

Crucifixo

«Minha mãe, quem é aquele
 Pregado naquela cruz?
 - Aquele,  filho, é Jesus...
   É a santa imagem dele!

«E quem é Jesus? - É Deus !
« E quem é Deus? - Quem nos cria,
Quem nos manda a luz do dia
E fez a Terra e os Céus ;

E veio ensinar à gente,
Que todos somos irmãos,
E devemos dar as mãos,
Uns aos outros, irmãmente:

Todo amor, todo bondade!
«E morreu? - Para mostrar
Que a gente pela Verdade
Se deve deixar matar


João de Deus
(Campo de Flores)


quarta-feira, 12 de abril de 2017

A origem dos Ovos de Páscoa

easter:
As origens do ovo da Páscoa remonta ao ano 70 d C
Na maioria das civilizações antigas o ovo era considerado como a origem da vida e da fertilidade ou um símbolo de reencarnação.

Não surpreende pois que tenha sido adoptado, a par do Festival da Primavera como símbolo da ressurreição de Cristo.

O costume, vigente em alguns países de fazer rolar ovos pelos campos reproduz um hábito antigo comum entre os agricultores que obedecia ao objectivo de garantir colheitas abundantes .
EASTER GREETINGS two children sleep on ground watched by four rabbits:

Em Washington, na época de 1870 as crianças utilizavam os terrenos que rodeiam o Capitólio neste passatempo que danificava a relva pelo que o jogo foi proibido.

O desapontamento das crianças comoveu a mulher do presidente da altura que pôs o relvado da Casa Branca à sua disposição .

A partir de então rolar ovos na Casa Branca, na segunda feira de Páscoa tornou-se um costume de carácter nacional um exemplo significativo de um hábito moderno cuja origem remonta aos tempos da história pagã.


Vintage Easter:

terça-feira, 11 de abril de 2017

Carnac

Se Glastonbury é a capital mística de Inglaterra,  então a Bretanha (e particularmente o distrito de Carnac) é certamente a capital mágica de França) Não é por acaso que possui uma das mais importantes colecções de megalitos  com filas e filas de menhires alinhados avançando pelos campos ao longo de kilómetros.

Segundo uma lenda, estas pedras foram erguidas quando o santo cristão Cornélio, era perseguido por um exército de pagãos, e chegou à praia  não podendo  prosseguir. Em desespero pediu a Deus que transformasse os seus perseguidores em pedras, o que Deus fêz.
São Cornélio, fugiu então num carro de bois.

Na verdade os megalitos são anteriores ao cristianismo, cerca de  2.000 anos . Arqueólogos ortodoxos consideram que o local  é um grande cemitério que inclui túmulos, tumbas e circulos de pedra, e  que os alinhamentos iniciados em Inglaterra, parecem continuar em Carnac. e tal como em Glastonbury, o  alinhamento é igual  entre  pedras.

domingo, 9 de abril de 2017

O calendário

Janeiro gear,
Fevereiro chover,
Março encanar,
Abril espigar;

Maio engrandecer,
Junho ceifar,
Julho debulhar,
Agosto recolher;

Setembro vindimar,
Outubro revolver,
Novembro semear,
Dezembro nascer
Deus para nos salvar.

Teófilo Braga ( sécs XlX XX )
Cancioneiro popular português


Joaquim  Teófilo Fernandes  Braga
(1843-1924
Foi um poeta politico e ensaista português
Eleito Presidente da República Portuguesa, entre 1910 e 1915 pelo Partido Republicano Português e Partido Democrático


sábado, 8 de abril de 2017

O ouro

Era uma vez um rei que tendo achado no seu reino minas de ouro, empregou a maior parte dos seus vassalos a extrair o ouro dessas minas; e o resultado foi que as terras ficaram por cultivar, e houve uma grande fome no país.
 
 Mas a raínha que era prudente e que  amava o  povo mandou  fabricar em segredo frangos, pombas, galinhas e outras iguarias todas de  ouro fino; e, quando o rei quis jantar mandou-lhe servir essas iguarias, com que ele ficou todo satisfeito, pois não compreendeu ao principio qual era o sentido da raínha; mas, vendo que não lhe traziam mais nada de comer, começou a zangar-se
Pediu-lhe então a raínha que visse bem que o ouro não era alimento, e que seria melhor empregar os seus vassalos em cultivar a terra que nunca se cansa de produzir.do que trazê-los nas minas à busca do ouro, que não mata a sede nem a fome e que não tem mais valor do que a estimação, que lhe é dada pelos homens, estimação que havia de converter.se em desprezo, logo que o ouro aparecesse em abundância.
...
A raínha tinha juízo.

Guerra Junqueiro (sécs XlX-XX)

quinta-feira, 6 de abril de 2017

O príncipe com orelhas de burro

Era uma vez um rei, que vivia triste por não ter filhos, e mandou chamar três fadas para para que fizessem com que a raínha lhe desse um filho.
As fadas prometeram-lhe que os seus desejos seriam satisfeitos e que elas viriam assistir ao nascimento de príncipe.
Ao fim de nove meses a raínhadeu à luz um filho e as três fadas fadaram o menino.  A primeira fada disse:
-Eu te fado para que sejas o príncipe mais forte do mundo.
 A segunda fada disse:
Eu te fado para que sejas muito virtuoso e entendido.
A terceira fada disse:
Eu te fado para que te nasçam umas orelhas de burro!

Foram-se as três fadas e logo apareceram ao príncipe as orelhas de burro.O rei mandou fazer sem demora um barrete, que o príncipe devia usar sempre para cobrir as orelhas.
Crescia o príncipe em formosura e ninguém sabia na corte que ele tivesse   as tais orelhas de burro.
Chegou a idade em que ele tinha de fazer a barba, então o rei mandou chamar o seu barbeiro e disse-lhe:
- Farás as barba ao príncipe; mas se disseres a alguém que ele tem orelhas de burro, morrerás!
Andava o barbeiro com grandes desejos de contar o que vira; mas, o receio de que o rei o mandasse matar, calava consigo. Um dia foi.se confessar e disse ao padre:
- Eu tenho um segredo que me mandaram guardar: mas, se o não digo a alguém, morro; e se o digo, o rei manda-me matar. Diga, Padre; o  que hei-de fazer?
Responde-lhe o Padre, que fosse a um vale, que fizesse uma cova na terra, e que dissesse o segredo tantas vezes até ficar aliviado desse peso, e que depois tapasse a cova com terra.
O barbeiro, assim fêz; e, depois de ter tapado a cova, voltou para casa descansado.

Passado algum tempo, nasceu um canavial onde o barbeiro tinha feito a cova.Os pastores, quando ali passavam com os seus rebanhos, cortavam canas para fazer gaitas ; mas quando tocavam nelas, saíam umas vozes que diziam: - Príncipe com orelhas de burro ! -

O próprio rei, também tocou e sempre ouvia as vozes ! Então o rei mandou chamar as fadas e pediu-lhes que tirassem as orelhas de burro ao príncipe.
Então elas mandaram reunir toda a corte e ordenaram ao príncipe que tirasse o barrete ; Mas qual não foi o contentamento do rei, da raínha e do príncipe,  ao verem que já lá não estavam, as tais orelhas de burro !...
E a partir desse  dia  as gaitas que os pastores faziam, deixaram de dizer : - Príncipe com orelhas de burro ! -

Adolfo Coelho
Retirado do meu livro do 1º ano do ensino liceal 1952

 Francisco Adolfo Coelho 1847-1919
Filólogo, escritor e pedagogo autodidacta foi uma das figuras mais importantes da intelectualidade portuguesa dos finais do século XlX

Poemas inconjuros

  A espantosa realidade das coisas É a minha descoberta de todos os dias Cada coisa é o que é . E é difícil explicar a alguém quanto isso me...