As fadas prometeram-lhe que os seus desejos seriam satisfeitos e que elas viriam assistir ao nascimento de príncipe.
Ao fim de nove meses a raínhadeu à luz um filho e as três fadas fadaram o menino. A primeira fada disse:
-Eu te fado para que sejas o príncipe mais forte do mundo.
A segunda fada disse:
Eu te fado para que sejas muito virtuoso e entendido.
A terceira fada disse:
Eu te fado para que te nasçam umas orelhas de burro!
Foram-se as três fadas e logo apareceram ao príncipe as orelhas de burro.O rei mandou fazer sem demora um barrete, que o príncipe devia usar sempre para cobrir as orelhas.
Crescia o príncipe em formosura e ninguém sabia na corte que ele tivesse as tais orelhas de burro.
Chegou a idade em que ele tinha de fazer a barba, então o rei mandou chamar o seu barbeiro e disse-lhe:
- Farás as barba ao príncipe; mas se disseres a alguém que ele tem orelhas de burro, morrerás!
Andava o barbeiro com grandes desejos de contar o que vira; mas, o receio de que o rei o mandasse matar, calava consigo. Um dia foi.se confessar e disse ao padre:
- Eu tenho um segredo que me mandaram guardar: mas, se o não digo a alguém, morro; e se o digo, o rei manda-me matar. Diga, Padre; o que hei-de fazer?
Responde-lhe o Padre, que fosse a um vale, que fizesse uma cova na terra, e que dissesse o segredo tantas vezes até ficar aliviado desse peso, e que depois tapasse a cova com terra.
O barbeiro, assim fêz; e, depois de ter tapado a cova, voltou para casa descansado.
Passado algum tempo, nasceu um canavial onde o barbeiro tinha feito a cova.Os pastores, quando ali passavam com os seus rebanhos, cortavam canas para fazer gaitas ; mas quando tocavam nelas, saíam umas vozes que diziam: - Príncipe com orelhas de burro ! -
O próprio rei, também tocou e sempre ouvia as vozes ! Então o rei mandou chamar as fadas e pediu-lhes que tirassem as orelhas de burro ao príncipe.
Então elas mandaram reunir toda a corte e ordenaram ao príncipe que tirasse o barrete ; Mas qual não foi o contentamento do rei, da raínha e do príncipe, ao verem que já lá não estavam, as tais orelhas de burro !...
E a partir desse dia as gaitas que os pastores faziam, deixaram de dizer : - Príncipe com orelhas de burro ! -
Adolfo Coelho
Retirado do meu livro do 1º ano do ensino liceal 1952
Francisco Adolfo Coelho 1847-1919
Filólogo, escritor e pedagogo autodidacta foi uma das figuras mais importantes da intelectualidade portuguesa dos finais do século XlX
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