passam os ventos, passa o sonho e a dor;
Apodrecem os corpos numa vala,
e desfolham-se as folhas duma flor.
Para que produza, matam-se a cavá-la
A Primavera, o poeta e o cavador
Todos com ânsia, para profundá-la,
todos amando-a, para que dê amor!
Mondam-se os trigos, sob os claros ares;
florescem nas ramadas os fecundos
rebentos; alvorecem os pomares...
E a Terra, a grande mãe alvoraçada,
sente no ventre, remexer, profundos
frutos, de cada beijo, cada enxada!
Afonso Lopes Vieira (século XlX- XX)
Poesias escolhidas
Retirado do livro a «Terra e a Grei» 1956
para 1ª ano liceal
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