Ah! Se eu fosse borboleta
Violeta,
por quem ao sol derretera
As minhas asas de cera
e ouro em pó?
Ah! Se eu fosse borboleta,
Violeta
deixaria a rosa e a dália,
Nuvens, bosques, céu de Itália,
Por ti, só.
João de Deus
«Campo de flores»
quinta-feira, 8 de setembro de 2016
terça-feira, 30 de agosto de 2016
A vida
A vida é ai que mal soa,
A vida é sombra que foge,
A vida é nuvem que voa;
A vida é sonho tão leve
Que se desfaz como a neve
E como o fumo se esvai:
A vida dura num momento,
Mais leve que o pensamento,
A vida leva-a o vento,
A vida é folha que cai!
A vida é flor na corrente,
A vida é sopro suave,
A vida é estrela cadente,
Voa mais leve que a ave:
Nuvem que o vento nos ares,
Onda que o vento nos mares,
Uma após outra lançou,
A vida – pena caída
Da asa da ave ferida
De vale em vale impelida
A vida o vento levou!
♥*¨*•.¸¸♥ JOÃO DE DEUS, Campo de Flores (Séc. XlX)
A cigarra e a formiga
Como a cigarra o seu gosto
É levar a temporada
De Junho, Julho e Agosto
Numa cantiga pegada,
de Inverno também se come,
E então rapa frio e fome!
Um Inverno a infeliz
chega-se à formiga e diz:
- «Venho pedir-lhe o favor
de me emprestar mantimento,
matar-me a necessidade;
que em chegando a novidade,
Até faço um juramento,
Pago-lhe seja o que for.»
Mas pergunta-lhe a formiga:
-«Pois que fez durante o Estio?»
- «Eu? Cantar ao desafio...»
-« Ah! Cantar? Pois, minha amiga,
Quem leva o Estio a cantar,
Leva o Inverno a dançar!"
♥*¨*•.¸¸♥ Joao de Deus, Campo de flores (Séc XlX)
É levar a temporada
De Junho, Julho e Agosto
Numa cantiga pegada,
de Inverno também se come,
E então rapa frio e fome!
Um Inverno a infeliz
chega-se à formiga e diz:
- «Venho pedir-lhe o favor
de me emprestar mantimento,
matar-me a necessidade;
que em chegando a novidade,
Até faço um juramento,
Pago-lhe seja o que for.»
Mas pergunta-lhe a formiga:
-«Pois que fez durante o Estio?»
- «Eu? Cantar ao desafio...»
-« Ah! Cantar? Pois, minha amiga,
Quem leva o Estio a cantar,
Leva o Inverno a dançar!"
♥*¨*•.¸¸♥ Joao de Deus, Campo de flores (Séc XlX)
sexta-feira, 26 de agosto de 2016
A Pátria
Como o pródigo volta ao lar paterno.
desenganado do que em vão procura,
eu, já desfalecido nesta lida
de sonhos sobre sonhos de ventura,
desejava dormir o sono eterno
abrindo junto ao berço a sepultura,
fechar, em suma, o circulo da vida
no saudoso ponto de partida !
Chegado pois, Senhor, aquele dia
que se me apague a luz que me alumia,
deixai-me descansar onde repousa
meu santo pai, e sua terna esposa,
- a minha santa mãe .
Ser-me-á assim mais leve a fria lousa,
que a terra onde se nasce é também mãe!
Do Livro do Amor
João de Deus
.¸¸.•*•❥... comum à alma lusitana !
desenganado do que em vão procura,
eu, já desfalecido nesta lida
de sonhos sobre sonhos de ventura,
desejava dormir o sono eterno
abrindo junto ao berço a sepultura,
fechar, em suma, o circulo da vida
no saudoso ponto de partida !
Chegado pois, Senhor, aquele dia
que se me apague a luz que me alumia,
deixai-me descansar onde repousa
meu santo pai, e sua terna esposa,
- a minha santa mãe .
Ser-me-á assim mais leve a fria lousa,
que a terra onde se nasce é também mãe!
Do Livro do Amor
João de Deus
.¸¸.•*•❥... comum à alma lusitana !
quinta-feira, 25 de agosto de 2016
Enjeitadinha
-Porque choras tu, anjinho?
-Tenho fome e tenho frio!
- E só, por este caminho,
como a ave que caiu
ainda implume do ninho!?
A tua mãe já não vive?
-Nunca a vi em minha vida;
Andei sempre assim perdida,
e mãe por certo não tive...
. És mais feliz do que eu,
Que tive mãe, e morreu !
João de Deus
Livro de leitura
1º ano do ensino Liceal
1952
sábado, 20 de agosto de 2016
Frei João Sem Cuidados
O rei ouvia sempre falar em Frei João Sem Cuidados como um homem que não se afligia com coisa nenhuma deste Mundo.
- Deixa estar, que hei-de meter-te em
trabalhos !
Mandou-o chamar à sua presença e
disse-lhe:
- Vou-te dar uma adivinha; e se dentro
de três dias não me souberes responder, mando-te matar. Quero que me digas
Quanto pesa a lua, quanta água tem o mar e em
que é que eu penso.
Frei João Sem Cuidados saiu do palácio
bastante atrapalhado, pensando na resposta que havia de dar àquelas
perguntas.
O seu moleiro encontrou-o no caminho e lá estranhou ver o frade tão preocupado de cabeça baixa e macambúzio
- Olá senhor Frei João Sem Cuidados, então que é isso, que o vejo
tão triste?
- É que o rei disse-me que me mandava matar
se, dentro de três dias, não lhe respondesse a estas perguntas:- Quanto pesa a lua ? quanta água tem o
mar ? O que é que ele pensa.?
O moleiro pôs-se a rir e disse-lhe que não tivesse cuidado;
que lhe emprestasse o hábito de frade, que ele iria
disfarçado e havia de dar boas respostas ao rei.
Passados três dias, o moleiro, vestido de
frade, foi pedir audiência ao rei. O rei perguntou-lhe:
- Então quanto pesa a lua?
- Saberá Vossa Majestade que não poderá pesar
mais do que um arrátel, porque todos dizem que ela tem quatro quartos.
- É verdade. E agora: Quanta água tem o mar?
Respondeu o moleiro:
- É verdade. E agora: Quanta água tem o mar?
Respondeu o moleiro:
- Isso é muito dificil de saber. Mas como Vossa
Majestade só quis saber da água do mar, é preciso primeiro mandar tapar os rios,
porque sem isso... nada feito!
O rei achou bem respondido; mas, zangado de
ver Frei João Sem Cuidados escapar-se das dificuldades, tornou:
- Agora, se não souberes o que é que eu
penso, mando-te matar!
O moleiro respondeu :
- Ora ! Vossa Majestade pensa que está a falando
com Frei João Sem Cuidados e está mas é falando com o seu moleiro.!
- Deixou cair o hábito e o rei ficou pasmado com a esperteza do ladino
Moral da história; - Nem sempre quem muito pode é quem muito sabe!!
Moral da história; - Nem sempre quem muito pode é quem muito sabe!!
Teófilo Braga - Contos tradicionais portugueses
(retirado do meu livro de leitura do 1º. ano do ensino liceal 1952)
Canção da velhice
Corri o mundo
Aprendi o sabor dos desenganos ...
Só então compreendi, o quanto valem os anos
Fui semeando ilusões da vida pelo caminho ;
quando voltei a colhê-las, achei-me pobre e sózinho
Fêz o tempo na minh'alma uma nova sementeira :
semeou a experiência com mão segura e certeira.
Dizem que os livros encerram muita luz muita lição ;
mas nenhuma como aquela, que só os anos nos dão.!
A vida é um livro aberto, que toda a gente anda a ler ;
Até a morte chegar sempre há muito que aprender.
A mocidade soletra, os homens lêem melhor.
Os velhos esses já quase sabem o livro de cor.
Andei muito pela vida ...
Agora vou descansar à beira deste caminho,
a ver os outros passar .
E a mocidade iludida,
a correr, passa por mim...
Se eu te dissesse o que sei, já não corrias assim!
✿❤❤❀
Armando César Côrtes-Rodrigues
✿❤❤❀
Armando César Côrtes-Rodrigues
Foi um escritor, poeta, dramaturgo, cronista e etnólogo açoriano que se distinguiu pelos seus estudos de etnografia e em particular pela publicação de um Cancioneiro Geral dos Açores e de um Adagiário Popular Açoriano, obras de grande rigor e grande qualidade
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