Como a cigarra o seu gosto
É levar a temporada
De Junho, Julho e Agosto
Numa cantiga pegada,
de Inverno também se come,
E então rapa frio e fome!
Um Inverno a infeliz
chega-se à formiga e diz:
- «Venho pedir-lhe o favor
de me emprestar mantimento,
matar-me a necessidade;
que em chegando a novidade,
Até faço um juramento,
Pago-lhe seja o que for.»
Mas pergunta-lhe a formiga:
-«Pois que fez durante o Estio?»
- «Eu? Cantar ao desafio...»
-« Ah! Cantar? Pois, minha amiga,
Quem leva o Estio a cantar,
Leva o Inverno a dançar!"
♥*¨*•.¸¸♥
Joao de Deus, Campo de flores (Séc XlX)
terça-feira, 30 de agosto de 2016
sexta-feira, 26 de agosto de 2016
A Pátria
Como o pródigo volta ao lar paterno.
desenganado do que em vão procura,
eu, já desfalecido nesta lida
de sonhos sobre sonhos de ventura,
desejava dormir o sono eterno
abrindo junto ao berço a sepultura,
fechar, em suma, o circulo da vida
no saudoso ponto de partida !
Chegado pois, Senhor, aquele dia
que se me apague a luz que me alumia,
deixai-me descansar onde repousa
meu santo pai, e sua terna esposa,
- a minha santa mãe .
Ser-me-á assim mais leve a fria lousa,
que a terra onde se nasce é também mãe!
Do Livro do Amor
João de Deus
.¸¸.•*•❥... comum à alma lusitana !
desenganado do que em vão procura,
eu, já desfalecido nesta lida
de sonhos sobre sonhos de ventura,
desejava dormir o sono eterno
abrindo junto ao berço a sepultura,
fechar, em suma, o circulo da vida
no saudoso ponto de partida !
Chegado pois, Senhor, aquele dia
que se me apague a luz que me alumia,
deixai-me descansar onde repousa
meu santo pai, e sua terna esposa,
- a minha santa mãe .
Ser-me-á assim mais leve a fria lousa,
que a terra onde se nasce é também mãe!
Do Livro do Amor
João de Deus
.¸¸.•*•❥... comum à alma lusitana !
quinta-feira, 25 de agosto de 2016
Enjeitadinha
-Porque choras tu, anjinho?
-Tenho fome e tenho frio!
- E só, por este caminho,
como a ave que caiu
ainda implume do ninho!?
A tua mãe já não vive?
-Nunca a vi em minha vida;
Andei sempre assim perdida,
e mãe por certo não tive...
. És mais feliz do que eu,
Que tive mãe, e morreu !
João de Deus
Livro de leitura
1º ano do ensino Liceal
1952
sábado, 20 de agosto de 2016
Frei João Sem Cuidados
O rei ouvia sempre falar em Frei João Sem Cuidados como um homem que não se afligia com coisa nenhuma deste Mundo.
- Deixa estar, que hei-de meter-te em
trabalhos !
Mandou-o chamar à sua presença e
disse-lhe:
- Vou-te dar uma adivinha; e se dentro
de três dias não me souberes responder, mando-te matar. Quero que me digas
Quanto pesa a lua, quanta água tem o mar e em
que é que eu penso.
Frei João Sem Cuidados saiu do palácio
bastante atrapalhado, pensando na resposta que havia de dar àquelas
perguntas.
O seu moleiro encontrou-o no caminho e lá estranhou ver o frade tão preocupado de cabeça baixa e macambúzio
- Olá senhor Frei João Sem Cuidados, então que é isso, que o vejo
tão triste?
- É que o rei disse-me que me mandava matar
se, dentro de três dias, não lhe respondesse a estas perguntas:- Quanto pesa a lua ? quanta água tem o
mar ? O que é que ele pensa.?
O moleiro pôs-se a rir e disse-lhe que não tivesse cuidado;
que lhe emprestasse o hábito de frade, que ele iria
disfarçado e havia de dar boas respostas ao rei.
Passados três dias, o moleiro, vestido de
frade, foi pedir audiência ao rei. O rei perguntou-lhe:
- Então quanto pesa a lua?
- Saberá Vossa Majestade que não poderá pesar
mais do que um arrátel, porque todos dizem que ela tem quatro quartos.
- É verdade. E agora: Quanta água tem o mar?
Respondeu o moleiro:
- É verdade. E agora: Quanta água tem o mar?
Respondeu o moleiro:
- Isso é muito dificil de saber. Mas como Vossa
Majestade só quis saber da água do mar, é preciso primeiro mandar tapar os rios,
porque sem isso... nada feito!
O rei achou bem respondido; mas, zangado de
ver Frei João Sem Cuidados escapar-se das dificuldades, tornou:
- Agora, se não souberes o que é que eu
penso, mando-te matar!
O moleiro respondeu :
- Ora ! Vossa Majestade pensa que está a falando
com Frei João Sem Cuidados e está mas é falando com o seu moleiro.!
- Deixou cair o hábito e o rei ficou pasmado com a esperteza do ladino
Moral da história; - Nem sempre quem muito pode é quem muito sabe!!
Moral da história; - Nem sempre quem muito pode é quem muito sabe!!
Teófilo Braga - Contos tradicionais portugueses
(retirado do meu livro de leitura do 1º. ano do ensino liceal 1952)
Canção da velhice
Corri o mundo
Aprendi o sabor dos desenganos ...
Só então compreendi, o quanto valem os anos
Fui semeando ilusões da vida pelo caminho ;
quando voltei a colhê-las, achei-me pobre e sózinho
Fêz o tempo na minh'alma uma nova sementeira :
semeou a experiência com mão segura e certeira.
Dizem que os livros encerram muita luz muita lição ;
mas nenhuma como aquela, que só os anos nos dão.!
A vida é um livro aberto, que toda a gente anda a ler ;
Até a morte chegar sempre há muito que aprender.
A mocidade soletra, os homens lêem melhor.
Os velhos esses já quase sabem o livro de cor.
Andei muito pela vida ...
Agora vou descansar à beira deste caminho,
a ver os outros passar .
E a mocidade iludida,
a correr, passa por mim...
Se eu te dissesse o que sei, já não corrias assim!
✿❤❤❀
Armando César Côrtes-Rodrigues
✿❤❤❀
Armando César Côrtes-Rodrigues
Foi um escritor, poeta, dramaturgo, cronista e etnólogo açoriano que se distinguiu pelos seus estudos de etnografia e em particular pela publicação de um Cancioneiro Geral dos Açores e de um Adagiário Popular Açoriano, obras de grande rigor e grande qualidade
sábado, 6 de agosto de 2016
Tibouchina
Arbusto de jardim
Tibouchina granulosa Tibouchina granulosa, arbusto nativo de grande efeito paisagístico, inclusive para cultivo no litoral.
Suas flores em violeta propiciam combinações com arbustos de flores brancas ou lavanda.Não exigente em solo, mas necessita de muito sol. Florescimento mais intenso no outono.
sexta-feira, 15 de julho de 2016
Marianne von Werefkin - Expressionismo
Marianne von Werefkin, nasceu em 1860. Descendia de uma antiga família da nobreza russa, muito abastada.
A mãe que também pintava, apoiou o desejo da sua filha de se dedicar às artes desde o principio.
Primeiro, Von Werefkin recebeu aulas particulares, mais tarde, frequentou a Escola de Arte em Moscovo e, depois em 1886, foi aluna privativa do reconhecido pintor histórico Ilja Repin. Foi tamém aí que conheceu, Jawlensky.
A sua obra teve logo sucesso. As críticas eram muito positivas . Von Werefkin, tornou-se uma artista reconhecida tendo ali recebido algumas distinções. Na altura era denominada o «Rembrandt russo» devido ao seu estilo. Em 1896 muda-se juntamente com Jawlensky, para Munique decisão esta que provávelmente se deve a ela. Von Werefkin era bastante rica podendo financiar o sustento para
ambos.
Renuncia entretanto a prosseguir a sua carreira de pintora para se poder dedicar plenamente a Jawlensky e para poder apoiar e estimular o seu trabalho artístico.
Na literatura especializada alegam-se várias razões para tal decisão , Alguns autores são da opinião que Von Werefkin, achava que Jawlensky tinha mais talento do que ela: outros pelo contrário opinam que ela tinha um certo receio de não ser devidamente reconhecida no mercado da arte por ser mulher, enquanto que outros ainda acreditam que a deformação da sua mão direita causada por um acidente de caça, lhe dificultasse o trabalho artistico
.
Nos seus diários está claramente escrito que Von Werefkin não via o seu papel de mediadora entre os artistas e entre o artista e o público, como um papel passivo, mas que o preenchia activamente, como uma missão. «Quando o génio e o público não estão em harmonia, isso tem como resultado a cessação do movimento da cultura universal. - Por conseguinte é necessário que seja formado um público.
Von Werefkin mantinha também um salão onde habitualmente se reuniam artistas, escritores, músicos historiadores de arte, mas também amadores interessados, para debater as novas teorias artisticas.
No entanto desde 1901, que ela e Jawlensky tinham graves disputas pessoais e artisticas «Queria pensava, poder criar com mãos estranhas, mas agora, « tarde, tarde, tarde» declara resignada nessa altura.
Uma nota escrita cinco anos antes ainda na Rússia, reflete ainda mais claramente a complicada relação que mantinha com Jawlensky .
«Procurava a outra metade do meu próprio ser . Na pessoa de Jawlensky pensava poder criá-la educá-la. Deparei com limitações e hoje as minhas mãos deixam-se cair».
Estas citações demonstram que Von Werefkin não pretendeia somente apoiar financeiramente Jawlensky . Queria também utilizá-lo como ferramenta para concretizar as suas próprias ideias sobre a arte.
Jawlensky no entanto escolheu o seu próprio caminho, ecomo consequência disso, Von Werefkin, recomeça a pintar em 1907.
Na sua obra pictórica as cores são utilizadas de maneira típicamente expressionista, sendo aplicadas uns constrastes luminosos, no entanto as formas nunca sao reduzidas ou abstraídas,
As representações da paisagens pintadas em cores místicas com cortejos fúnebres e mulheres vestidas de preto, emprestam uma expressão enigmática e algo misterioso a estas pinturas.
Quando a guerra eclode von Werefkin e Jawlensky intalam-se na Suiça.
Separam-se em 1920. Ela fica em Ascona onde pinta e onde tenta, em vão, dar continuação aos tempos do Der Blaue Reiter "onde conheceu Jawlensky "com a fundação do grupo Der Grosse Bãr.
Morre em Ascona em 1938
Jawlensky e von Werefkin, de Gabriele Munter, 1908
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