A 8 kilómetros de Paris seguindo pela margem do Sena até Asnières-sur-Seine encontra-se um lugar coberto de vegetação. É ali que o rio se abre para uma uma pequena ilha.
Atravessando a ponte que leva a essa ilha encontramos um portão largo e bonito que dá para alamedas sombreadas e terraços floridos com lápidezinhas espalhadas pelo meio .
Chegamos ao Cemitério de cães.
Neste local estão enterrados cerca de 10.000 amigos do homem. E nem todos são cães - há também gatos, galinhas, macacos e até um leão, uma gazela e dois cavalos.
Um dos emblemáticos monumentos é em memória de Barry.
O cão foi esculpido em granito e às suas costas tem uma menina que salvou das neves da montanha.
A lápide diz o seguinte:
"Salvou 40 pessoas pessoas, e morreu ao tentar salvar a quadragésima primeira"
Barry, embalsamado
Barry pertencia aos frades da Ordem de S. Bernardo e durante mais de sete anos da sua vida enfrentou as tempestades de inverno dos Alpes Franceses, na busca de viajantes perdidos ou vencidos pelo frio. Quando os encontrava, aquecia-os com o calor do seu corpo.
Se eles estivessem muito fracos para caminhar, Barry arrastava-os para fora da neve e saía a latir em busca de socorro.
No crepúsculo de um dia de dezembro Barry encontrou um homem perdido na neve. Estonteado pelo frio e vendo o vulto de um animal coberto de gêlo a latir e a saltar para ele, o homem encheu-se de medo.
Tinha consigo uma barra de ferro, com a qual golpeou Barry na cabeça. Mesmo mortalmente ferido Barry arrastou-se até ao mosteiro para informar os frades que havia alguém a precisar de ajuda. Seguindo o rasto do seu sangue, os frades chegaram ao local onde estava o homem que ferira Barry e matara Barry.
O cemitério e um manancial de heróis de 4 patas, e de companheiros insubstituíveis dos seus donos. .
Numa lápide sobre um túmulo lê-se
"Drac, 1941-1953: Fiel companheiro de horas trágicas precioso amigo no exílio.(S.M. Raínha Elizabeth da Grécia, Princesa da Romania."
Mystico, esculpido em pedra, olha para os versos a ele dedicados pelo seu dono, Marcel Leguay (cantor francês do século XIX ) que dizem:
«Mystico, meu bom cão de pêlo áspero e ar vagabundo, nunca saberás, quanto eu te amei.»
Tola Dorian poetisa e escritora (de origem russa mas naturalizada francesa pelo casamento ) deixou a este epitáfio ao seu cão Sappho:
«Sappho, querido e nobre amigo se a tua alma não me acompanhar na longa jornada, não desejo a eternidade».
Três pequenos caniches estão esculpidos em granito, embaixo do qual se lê:
«Queridos amiguinhos, nós que somos jovens choraremos por vocês quando formos velhos"
Outra inscrição «Por Dolly que me salvou de um incêndio eu choro. »
E mais outra que por si mesmo conta uma história:
«Ao meu pêlo de arame querido, ao meu Tito,( amigos e amantes me traíram,) tu meu pequeno camarada, foste o único que correspondeu à minha confiança..
No túmulo de Griff há uma citação de Víctor Hugo:
«O cão é virtude, que não podendo tomar forma humana tomou forma animal»
Frase comum a muitos túmulos a muitas vezes citada por Pascal.:
QUANTO MAIS CONHEÇO OS HOMENS MAIS AMO O MEU CÃO.
Este cemitério para animais existe graças a Marguerite Durand, e Alexandre Dumas, que induziram outros amigos dos animais a abrir subscrições. Contribuiram ricos e pobres grandes e pequenos, e a cidade prontificou-se de imediato a ceder o terreno. Assim nasceu "Lille de Ravageurs "
O cemitério com cerca de um hectar de terreno, pertence a uma sociedade particular e é mantido, através de entradas pagas a quem o visitar e pela venda de lugares para sepulturas..
Nos seus portões, pede-se ao visitante, que não "não pise nas sepulturas, não corte as plantas, não ria alto, nem pratique actos de mau gosto"
A única diferença entre estas sepulturas e as do ser humano, é que nestas não há emblemas religiosos.
A verdadeira grandeza não consiste nos actos de bravura mas também em dedicação quotidiana .
E aqui jazem os que foram, companheiros de grandes e pequenos.
Os seus epitáfios são testemunhas do consolo que souberam oferecer aos seus donos.