domingo, 14 de fevereiro de 2016
Só por isso, Mãe
(Maternidade Almada Negreiros)
Mesmo que a noite esteja escura,
Ou por isso,
Quero acender a minha estrela.
Mesmo que o mar esteja morto,
Ou por isso,
Quero enfunar a minha vela.
Mesmo que a vida esteja nua,
Ou por isso,
Quero vestir-lhe o meu poema
Só porque tu existes,
Vale a pena!
Lopes Morgado (Areias de Vilar, Barcelos, 23/4/1938)
Sacerdote – Frei da Ordem dos Frades Menores Capuchinhos - , professor, escritor, poeta, jornalista
quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016
Contra a Trovoada
Santa Bárbara Virgem se vestiu e calçou,
pelo caminho do Senhor andou;
encontrou o Senhor, e o Senhor lhe perguntou:
- O Bárbara, tu onde vais?
- Ó Senhor, eu ao Céu vou
desmanchar a trovoada
que vós lá tendes armada.
- Pois vai, Barbara, e bota-a ao monte maninho,
onde não haja pão nem vinho,
nem abafo de menino,
nem raminho de oliveira,
nem pedrinha de sal,
nem coisa a que faça mal.
POPULAR
domingo, 31 de janeiro de 2016
Aparências
Naquela imensa capoeira doirada, ao fundo do parque, as discussões não acabavam. A mais impertinente era sem duvida a galinhola, que, ao menor comentário, desatava num estridente, - E eu que o diga!E eu que o diga!». Perto dela o pavão era, também insuportável. E os galos e os pombos e as galinhas não se ficavam atrás, em ruidoso falatório.
Certa manhã, uma galinha resolveu tomar o seu banho de terra solta. Estendida como morta, com uma pata no ar, parecia não dar fim aquela sua extravagante posição. Uma outra sorrateiramente aproximou-se para lhe dar a entender que deveria levantar-se, porque ela também sentia o direito de se envolver, refastelada no chão, na terra solta.
E deu-lhe três fortes bicadas.
- Mas que autoridade tens tu ? - perguntou, sentenciosa a primeira.
A segunda respondeu-lhe com mais três fortes bicadas.
- Pouco barulho! Haja decência! Se aqui há alguém que merece respeito, esse alguém sou eu simplesmente - articulou o pavão, abrindo a cauda maravilhosa.
Todos se calaram, dominados pela beleza aparente que o pavão orgulhoso lhes mostrara.
Nisto entra na capoeira, o dono com um amigo. Afagou a galinha que mais punha; elogiou as pombas e os pombos; e. quando olhou para o pavão, soltou este desabafo;
- Isto não me serve para nada; está aqui a encher.
- Mas as penas são de uma grande formosura, ! - respondeu o amigo.
-Pois sim!- acrescentou o dono - Não digo que sejam feias; contudo veja o que fica, se lhe tirarmos as penas!
António Tomás Botto Foi poeta, humorista, contista e dramaturgo português, um dos mais originais e polémicos do seu tempo
sábado, 30 de janeiro de 2016
O tigre e a doninha
Pesou sempre o benefício porque a vaidade ofendeu,
principalmente se o grande, de um pequeno o recebeu
uma história que se aplica belamente aos racionais:
crendo que a tudo excedia no reino da Natureza.
em pérfida rede armada, por esperto caçador.
lida, revolve-se o bruto, e o que faz é apertar-se.
cessa, e do peito raivoso, horrendos bramidos lança.
demandando agrestes frutos, a leve esperta doninha.
foge:
porém curiosa põe-se de longe a olhar.
despe a soberba e lhe roga que o venha ali socorrer.
que, segura, a desprendê-lo, parte a doninha veloz.
no tenaz, urdido laço; roi aqui roi acolá
e o desfaz em breve espaço.
do que deve ao pequenino, fraco animal se envergonha.
- com receio de que a triste o caso nas selvas conte -
deita-lhe a garra danosa, a débil vida lhe extrai!...
Ninguém acuda ao malvado, se no precipício cai.
BOCAGE (Sec XVIII)
sexta-feira, 29 de janeiro de 2016
A caça ao antílope
Quando qualquer tribo resolve dar batalha aos antílopes que povoam as florestas, informa-se primeiro, das posições em que estes ùltimamente se encontraram, quais os caminhos que trilham e os pontos enfim, onde com frequência bebem água.
Combinado o dia da caçada, reúnem-se todos os homens da senzala em ponto não muito distante daquele onde se supõe estarem os animais, fazendo-se acompanhar dos seus rafeiros meio selvagens, com mais aspecto de chacais do que de animais domésticos, focinho ponteagudo, pêlo ouriçado, muito magros e por eles exclusivamente ensinados para tal fim.
A inteligência dos aborígenes consiste no conhecimento perfeito dos hábitos destes animais, e do partido que sabem tirar da sua incrível ligeireza corporal.
Armados de arcos, setas, zagaias, e com os competentes rafeiros, divide-se o troço de caçadores em duas fracções: uma a maior, passa para o lado do vento, largando seguidamente fogo ao mato, na extensão de alguns kilómetros; a outra espalha-se logo em semicírculo pela banda oposta a fim de tomar o passo a quantos bichos ameaçados pelas chamas, intentarem fugir pelos pontos não invadidos.
Começa então uma cena verdadeiramente interessante. Correm, saltam, apertam os pobres animais num círculo de ferro e fogo e, no meio de gritos latidos, urros e detonações, envolvem o campo de acção, entregando-se a completo delírio.
Estabelece-se a luta terrível. De uma parte, os antílopes aterrados com a vista das chamas próximas e ataques repetidos dos cães, defendem a sua existência a todo o transe; da outra, os indígenas no meio de toda esta confusão, desenvolvendo incrível actividade, vibram golpes em todos os sentidos.
... Ao cair da tarde, a atmosfera, assombrada pelo fumo da grande fogueira, reflete os pálidos clarões do último gigante da floresta, que arde; o crepúsculo, invadindo o vasto recinto esbraseado, deixa ver iluminadas, essas centenas de homens cobertos de cinzas e de sangue, intrépidos entre as derradeiras línguas de fogo, de armas em punho, derribando o inimigo, com certeiros golpes.
H. Capelo e Roberto Ivens (De Benguela às Terras d Iaca)
quinta-feira, 28 de janeiro de 2016
Ausência
Desde que, por não te ver,
Vejo-te em tudo... noite escura,
Resta-me só a ventura
De duvidar em dizer: — Qual mais custa: se a tristeza
De um adeus amargurado,
Se a dura e firme certeza
De estar penando a teu lado
Manuel da Silva Gaio (Coimbra, 6 de Maio de 1860 — Coimbra, 11 de Fevereiro de 1934) foi um poeta, teorizador e ensaísta português.
terça-feira, 26 de janeiro de 2016
Centésimo (O) macaco
Um macaco capturado e preso numa jaula não sabe fugir de lá .
Aconteceu a mais um segundo um terceiro e um quarto macacos encarcerados juntamente com ele. Foi-se aumentando o número até se chegar ao CENTÉSIMO macaco e a jaula desfez-se em bocados e todos fugiram.
Moral da História:
Se enquanto sozinho um indivíduo é quase impotente, em grupo actuando em conjunto, pode quebrar a mais forte das correntes.
Esta ideia foi também aplicada ao misterioso fenómeno da massa crítica de transferència de informação, através de animais ou da espécie humana.
O fenómeno foi pela primeira vez observado, em Inglaterra, em 1952, quando os distribuidores de leite com cápsulas em metal ( Até então as garrafas de leite eram seladas com papelão. )
Um passarito, o Chapim azul, depressa descobriu como furar a cápsula e beber o leite. Esta descoberta feita por esses pequenos pássaros aconteceu em Londres e espalhou.se rápidamente pelo sul de Inglaterra.
Ao principio o alastramento aconteceu a um ritmo que podia ser explicado em termos perfeitamente gerais. O hábito estava a alastrar de acordo com a observação; um chapim via outro a furar a cápsula com o bico e copiava a técnica.
Mas subitamente em 1955 deu-se uma mudança . De repente todos os chapins azuis assim como todos os chapins da Europa, sabiam o truque. O número de pássaros com tal conhecimento tinha atingido a massa crítica, produzindo uma explosão de informação relevante através da espécie
A este fenómeno o cientista britânico Rupert Sheldrake inventou o nome para o descrever e chamou-lhe :
«Ressonância Mórfica»
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